Terminando do início

No tempo em que havia fim

Sempre era um recomeço

No sol eu via um jasmim

Na lua, um anjo de gesso

Tudo começa assim que termina

O último mês antes do novo ano

A nova rua, a cada desquina

A dúvida antiga no velho engano

Na modernidade, eu sou antiquado

Seria um clássico surrealista

Me atualizando, mantenho-me atrasado

No mundo virtual, folheio uma revista

Me ponho de pé, voando parado

Num carro antigo, viajo em segundos

Em uma caminhada, percorro estados

Pouquíssimo tempo me leva a mil mundos

Sou doutor em antiquariato, conheço demais

Acordo com a certeza do problema sem solução

Começo do fim, o que deixei para trás

Resolvo pendências sem nem por a mão

Se quisesse terminar, teria de começar novamente

As palavras brotam na ponta do lápis

No fim do papel, retomo à minha mente

Neurônios explodem, igual a mil traques

Sei que por um fim, me volto ao começo

Relembro o que fiz, vontade de refazer

Contudo eu sei que perderia o apreço

Começando do fim, nada teria a dizer