Dor

Eu queria concentrar

Toda minha complexa dor

Em uma simples solução

Para ser inalada, bebida

Para ser a bebida dos melancólicos.

Dor que dissolve ilusões

Que esvai esperanças

Que me joga sem freios

Contra o muro da realidade.

Dor cotidiana, mundana

Que me faz poeta sofredor.

E por ser, poeta dilacerado

Vítima de minhas vontades e pecados

Ser quem eu quiser na poesia.

Dor subversiva, debaixo dos panos

Do que está na aparência, na superfície

Que motiva e desmotiva minha motivação

Que cria as personagens de minha

Realidade fragmentada

Dor minha, preciosa

Como um solene carrasco

Ao decapitar minha lucidez

Para que minha visão poética

Não seja prejudicada.

Dor longínqua, do passado em sua plenitude

Do presente em sua solitude

Forjando a ausência

Da ilusão de um futuro cândido.

Dor impura, sinestesia de sentidos

De tato agonizante

De paladar amargo

De visão depreciativa

De audição atordoante

De faro ácido e nauseante.

Dor que punge meu ser

Minha sublime queda

Dor de tantas faces

Miseráveis e epifânicas.

Já não existe definição

Existe um gosto pela miséria

Gosto fino e incompreensível

Deleite de um gosto divino.

Ironic
Enviado por Ironic em 28/11/2009
Código do texto: T1949394
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