Epíteto
Passant, ne pleure pas ma mort
Si je vivais tu serais mort.
(Passante, não chores minha morte
Se eu vivesse tu estarias morto)
Epitáfio de Robespierre
Se Penso, passo os dias só e lutando contra esse fato
Se existo, passo os dias esperando que ainda acabe
Se findo, passo a vida na certeza que terminará o ato
Eu imagino que um dia retorno, mas isso quem sabe?
São essas incertezas que diferenciam-me das feras?
Além da capacidade de registrar esses tristes versos
Pensar se existo, saber que findo e imaginar quimeras
Nas quais acredito que não serei somente os restos
Dos meus próprios despojos que abandono ao acaso
Como se nunca tivesse sido eu mesmo esta essência
Capaz de conduzir-me a esse meu incompreensível ser
Ver que é chegada a hora a qual esperei com paciência
Só espero agora que escrevam no meu triste epitáfio
Feito na pedra dura e negra, de frio mármore esquecida
“Que importa o que foi ou deixou de ser na vida,
Importa é que agora é só mais uma alma perdida”.
Também prefiro ditar eu mesmo o meu epíteto
Se terei que enfrentar a inominável morte atroz
Sorrindo a receberei, pois terei estrelas por teto
Só quero ser lembrado como o poeta da triste voz.
Por que temeria eu a morte?
Se reclamo todo dia o surgimento da sua epifania
Quero que surja na hora que julgar mais oportuna
Até porque se ela não viesse nunca o que faria?
Se em viver também já não vejo qual é a fortuna!
Ó morte, por que seifas tu aos milhares...
Em Guerras, pestes, entre outros males...
Cairás ainda por eras sobre os mortais!
Não fosse a vida, tu não existirias jamais!
("Não espero nada. Não temo nada. Sou livre").
Epitáfio de Níkos Kazantzákis.
Brasília-DF, 28 de novembro de 2009.