“O BÊBADO E A EQUILIBRISTA” _ PONTUANDO

Medito e medito. E deixo o não dito pelo dito.

E nem sei. Tantas demonstrações, apenas arte.

Construção técnica, pirotécnica.

A vida em jogo. Deus, Jesus, Maria. Envolvido o Santo Espírito.

Penso em músicas, risos, conversas, entendimentos e desentendimentos. Até no perigo.

Intensidades. Jogo de luz e sombras. Idas e vindas, aceitações, desculpas e perdões.

Tudo ali no calor da linguagem, do inverno e da estiagem.

E me pergunto por que tudo isto aconteceu.

Sem explicação. Acaso, não. Destino, não. Presença, não. Ausência também não. Nem carência ou demência. Absolutamente não.

As marcas, as lágrimas. Até isto, lágrimas. A razão e a emoção. O rito.

A palavra suplicante, estendida a mão. A ofensa impensada. A vida na contramão.

A incompreensão, a intolerância. O segredo escondido a sete chaves. As madrugadas úmidas de saudade.

Tudo junto, num roldão. O ataque, o revide, a fúria de um leão.

Uma pena de pássaro no ar, um olhar na imensidão. Uma bandeira de paz, um pulsante coração.

Histórias, memórias de imagens, sonhos, canções. Desejos e pulsações.

A essência que em botão se mostra. O barco solitário, o voo de um avião. Uma praia, uma voz.

De onde todas essas coisas são? Existe para a Física da ordem natural das coisas compaixão?

Sim, existe e é vão.

Uma mão que se oferece, um braço amigo sempre disposto ao abrigo. Espreita o inimigo.

O artigo definido. Singular e plural. Do impensado coordenando a subordinação.

E quanto mais imagino, o rio ao contrário, no pranto dos meus dedos, corre das minhas mãos.

E eu as olho e me pergunto o motivo da escolha, do cruzamento, do abalroamento.

E escrevo pra me lavar no oceano desse pensar. E a mente no sonho gira e gira sem cessar.

A pedra e o Raimundo de Drummond. A vida não sai do tom.

E eu não canto com Cecília esta canção incompleta.

Olho pela janela, vejo o absurdo azul. Diviso a face de Florbela.

Pelicano de Musset, abro as asas. E permito que a incompletude se abrigue em meu peito.

Falo com meus botões. As casas da blusa não querem falar.

E nem me importo se me entendem e pensem o que pensar. Há no mar um barco fantasma, uma sonata sem luar.

Um violino abandonado, um grito abafado, um incêndio pelo ar. Pouco se me dá.

Sigo em frente a minha rota, navegando nas palavras.

Ando pelas ruas conversando com as histórias das casas, falando com um jardim. Beijo a estátua, concreto de um querubim.

A roseira desgalhada e no escuro da esquina um bêbado às gargalhadas.

Dele me aproximo, bebo na sua garrafa. Digo-lhe ser o mundo uma jaula. Os olhos dele têm estrelas. A luz dessas lantejoulas, a mais sábia aula.

Vamos os dois de braços dados. O bêbado e a equilibrista, sóbrios desequilibrados.