Rastejar ou Voar?

Escondido aqui, nunca totalmente escondido. Alguém me encontrará, interromperá meus pensamentos, me fará postergar a idéia, o verso, esta retro-construção. Sempre alguém, sempre alguém. A vida é construção, interrupção, solidão.

Liberar-se do cíclico, alçar-se com o coração. O outro é imagem especular e instrutiva.

Uma vida longa assim traz suas

conveniências. O inconveniente é o esquecimento.

Há os que rastejam e os que voam. Entre mim e eles,

ensaio.

É chegada a hora de cantar.

Agora, afinada a voz,

hei de cantar. Ouçam-me os surdos,

vejam-me os cegos.

Agora que aprendi a voar,

eu vou cantar.

Não sou nem a cigarra, nem a formiga,

sei que sou humano e vou cantar.

Uns passam a vida contando os seus dinheiros.

Outros, olhando-se em espelhos.

Jogo tudo fora pra voar,

E se faltar-me asa,

Vou cantar.

E se faltar-me a voz,

eu vou sonhar...

Primavera de 2009. A meu filho André.

Nagib Anderáos Neto

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