Leite Roxo

Este tempo sem graça, sem paixão,

Passa lento... vai calmo por demais.

Pensamentos tristonhos vêm do chão,

Mas das horas sem tempo surge paz.

O calor (você sente?) na manhã

Mata toda paixão e todo afã.

Você sente cansada toda a mente

Por pensar sem sentido o que não sente.

Você sente da vida o seu acocho,

Você sente, percebe que é mais gente,

Por acaso bebendo leite roxo.

Se você muito sofre, sofre em vão,

Porque pena sentidos tão iguais

Nos sentidos que forjam a razão.

Todo prende teu peito por demais

Nas cadeias sem cor, nas celas vãs

Que se formam em ti, celas pagãs.

O futuro, gigante, vai a frente

De ti, pleno, durável, insolente.

O caminho sem trégua, mais muxoxo,

Anda em si com as penas reluzentes,

Por acaso bebendo leite roxo.

A tua alma se mostra na escuridão,

Vai mais cega, caminha sobre os ais

Do teu dia, todo dia nessa ilusão.

Ela cega o teu peito morto mais

E mais, castra os teus sonhos de amanhã,

De futuro muxoxo e alma malsã.

O teu sonho morreu serenamente,

O teu sonho trará o teu presente

Contemplado de rosas, diabo-coxo!

Muita sede de glória que se invente,

Por acaso bebendo leite roxo.

Você traz esquecido o coração.

Lá, jogado no fundo, sem seu gás

Que bajule a besteira, já sem mãos

Você busca mistérios faciais.

Por florestas sem vinho, sem teu Pã,

Labirinto sem fio feito de lã

Que te mostre o caminho, simplesmente.

Teus mistérios se mostram pra que agüentes

As mentiras das verdades no seu bojo,

Pra você não chorar, serenamente,

Por acaso bebendo leite roxo.

Estes versos sem luz e negação,

Bem precisa dos medos mais fatais

Que se guardam no peito triste. Então

Muito dizem de si, mesmo banais.

Mas você que perdeu teu vão titã,

Siga as linhas honestas da arte-irmã.

O que digo, ouça o ouvido mais carente!

A modéstia será mais transparente

Quando as vidas mais livres dos despojos

Se cantarem do canto frio ao quente,

Por acaso bebendo leite roxo.

Vai a ti, meu irmão, marcadamente,

Este canto do leite que desmente.

Que desmente o contrário do teu nojo,

Com que vives no mundo loucamente,

Por acaso bebendo leite roxo.

4 de novembro de 2009.

Ranieri Basílio
Enviado por Ranieri Basílio em 25/11/2009
Código do texto: T1944117