ALMA DO AVESSO

Talvez eu pudesse ou devesse,

ao invés desta que agora sou,

ser outra pessoa,

alguém que ainda sonhasse,

mas que pouco ou nada almejasse.

Alguém que pensasse pouco,

vivesse apenas na superfície

e jamais espiasse pelas frestas,

que jamais desvendasse segredos,

que não tivesse os olhos atentos,

que tivesse o raciocínio lento,

que não soubesse juntar as peças

dos quebra-cabeças da vida,

para jamais se surpreender

com as imagens formadas por elas...

Alguém que não entendesse os sinais

da falsidade e da mentira,

que então, por isso fosse

incapaz de sentir raiva,

mágoa, imensa ira,

como sente esta que agora sou,

que por ter inteligência e discernimento,

arrancou o véu que ocultava as trevas

que se diziam chamar Amor...

Mas era só um arremedo mal-feito

desse nobre sentimento,

e que, no entanto,

enquanto me cativava,

aos poucos me envenenava

matando de vez minha alegria...

Talvez eu devesse criar

uma outra personagem,

sorridente e tola,

crédula e obtusa...

inocente como quem acredita no amor!

Talvez eu até fosse feliz...quem sabe...

Mas antes, preciso aprender

a virar minha alma do avesso.

NINNA SOPHIA
Enviado por NINNA SOPHIA em 25/11/2009
Código do texto: T1942712
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.