Paixão aculturada
Vivemos hoje a derramar cultura
pelo vazio do nosso passado.
Pagino um livro a cada beijo dado
nos lábios pouco abaixo da cintura.
Morreu em nós aquela criatura,
que se entregava, assim, despudorada...
a espalhar, por toda a madrugada,
os gritos de prazer a toda altura.
Não mais ciúme, nem vulva molhada!
Viramos peça de literatura:
página sóbria entre capas duras,
a segredar a história não contada.
Aquela história que foi editada
quando o amor era nossa cultura
e cada beijo, abaixo da cintura,
repaginava a nossa madrugada.
Restou-me a lembrança ejaculada
que, embora fugaz, inda perdura.