Paixão aculturada 

Vivemos hoje a derramar cultura
pelo vazio do nosso passado.
Pagino um livro a cada beijo dado
nos lábios pouco abaixo da cintura.

Morreu em nós aquela criatura,
que se entregava, assim, despudorada...
a espalhar, por toda a madrugada,
os gritos de prazer a toda altura.

Não mais ciúme, nem vulva molhada!
Viramos peça de literatura:
página sóbria entre capas duras,
a segredar a história não contada.

Aquela história que foi editada
quando o amor era nossa cultura
e cada beijo, abaixo da cintura,
repaginava a nossa madrugada.

 

Restou-me a lembrança ejaculada

que, embora fugaz, inda perdura.

 

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 14/07/2006
Reeditado em 24/11/2023
Código do texto: T194081
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