O Cavaleiro e a Espada

Cravo e ferro, espada e flecha

O campo verde, jaz vermelho

Enterrando os miosótis no seio da terra.

Tão pequena, ouvia-se o medo

Ouvia-se o silêncio de túmulos

Gritava-se a dor da morte!

E eis que a pequena estrela branca

Desponta de seu reino obscurecido

Dando seus raios prateados aos juncos

Fracamente iluminando os guerreiros

O céu se abrindo,

E a Lua, Senhora Bela e Terrível,

Dando seus ares de viuvez

Empalidecendo rostos lívidos de defuntos

Olhando mais além ao Homem que passeia entre mortos

- Onde está tua amada? Porque, enfim, não morreram juntos?

Pobre cavaleiro, tão gentil e heróico

Contempla a leve estrela

Admira a tão amada lua

- Ora, não vês que ela partiu?

Porque não vieste vê-la?

Ela se foi sem a digna bênção tua!

E ela, Senhora da Noite, não sabe

Que os homens quando amam

Sentem medo e piedade

Sentem frio e acovardam

- Perdão, gentil cavaleiro

Se tua amada partiu,

Apresse-se a vê-la

Olha o céu, primeiro

Não a vê? Tão pequenina estrela?

Mas não há consolo para ele

Que vaga entre os inertes

Amaldiçoando e sendo amaldiçoando

- Tantas cicatrizes sobre a pele,

Minha espada não serviu

Porque não eu o assassinado?

- Quiser descer eu à Terra e consolar-te!

E tua coragem?

Teus brados e feitos não te servem de nada?

Se amaldiçoas a tua viagem,

Então não mereces o brilho gentil de tua amada!

E com desanimo, dor e pesar

Foi o Nobre Homem a vagar

Tão pequenino entre os mortos

Estava a Lua lá no céu,

Doce, enviando bênção ao coração

Do nobre cavaleiro, que transbordava em fel!

E toda esta agrura caminhando ao relento

Tornou-se sombra e maldição

Marcando a alma de quem ama,

Aguilhoando corações

E torturando o mais leve dos pensamentos

Se toda esta dor, afinal, valeu a pena

Porque a morte nos verdes campos?

A dor pressagiada ainda é pequena

E o medo que tomamos

Sempre afasta o que amamos!

*

Os campos jazem vermelhos

Os que lutaram não existem mais

Nem sombra, nem memória

Nada que os torne imortais

Não é hora de pôr fim a estória?

Oh, mas ainda há o cavaleiro e sua dor

Perdida está a guerra e sua amada

Sob lua e estrela, entre sangue e horror...

Pela última vez, desembainha sua espada

Crava-a no peito e, olha a Pequenina

É tarde! - Seu sangue já derrama

Ouve-se uma canção cristalina

Na voz de adeus daquela que ele ama!

30/12/03

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