Arminda
(homenagem às Benzedeiras do Vale do Jequitinhonha)
A cacunda carcomida
curvatura que olha o chão
pisotea desenganosao
contrário do engano
verdade em obra e vida:
são acertos, isto são,
"_Ave Maria, menina
que menina foi Maria
mulher em precoce lua
onde em cuias de água fria
pôs-se a lavar quebrantos
e mandou pra todo canto
ao Pai Nosso dos encantos
aquilo que era sina
avesso da escolha tua.
Livra de todo mal
essa força feminina
prostração tão sem ajuda
secando galho de arruda
Anjo Pai, aumente a mina
da alvura das salinas
sal grosso, erva do quintal
que de pronto a vida apronta.
_Uai, menina estás pronta
é só fazer o caminho
a cada passo e ferida
no apagar do descaminho
que calo no pé não conta.
Conta a mesura do ninho
o cheiro do teu carinho
aquilo que a mulher dá conta
no bilro, rendando a vida!
Óia que eu me chamo Arminda
não cobro, não dou desconto
já vivi mais de cem anos
pra frente tem cem ainda.
Sei das noites os mil contos
desengano não é engano
corto "embigo", rasgo panos
enxugo igual, sangue e pranto
,qual rasga a pedra, a erosão.
"Carma" é minha oração
como carma é minha arma,
meu suspiro, minha mão
aberta na doação,
tramela do coração.
Cato o fecho da ferida
igual margarida, a vida
que no malmequer me quer
as veiz vive, as veiz não
nessas fissuras do ser.
Fecho corpo abro caminhos
no peito da velha Arminda
toda querencia é benvinda
todo colo vira ninho.
Elane Tomich