Úmida Camélia

Acontece que me canso

e por vezes padeço por causa de ti.

Acontece que tu me surges sempre assim

como um trem

um trem sempre a partir

com braços acenando lentos lenços melancólicos pelas janelas.

Porque não me acolhe nos teus vagões

porque não me salva desse frio, porque me surges sempre assim: como a vaga fumaça que passa?

Acontece que teu líquido ser tem qualquer coisa como o crepúsculo

que vi se escapando pela minha janela

repousando nua no vasto horizonte.

Teu espírito, na virtude de tuas pernas tão espertas,

sempre me escapa

sempre

como árvores se esquivando

descabeladas

de meus tristes ventos que te procuram

exasperados.

Queria que surgisse em meu caminho

não como o crepúsculo que escorre luzes

ou como aquele sórdido trem que vi partindo

na estação à noite.

Nem como árvores, nem nada. Não.

Queria só que me surgisses simplesmente

sem destino,

e te repousasses quieta, muito quieta,

e ficasses a dois palmos da terra

esquecendo as horas que passam,

projetando tuas sombras

sobre minha inquietação noturna.

Queria-te apenas flor:

úmida camélia. E nada mais.

***

Alex Canuto de Melo
Enviado por Alex Canuto de Melo em 21/11/2009
Código do texto: T1935944
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