AMIGO

Ei, amigo, o dia é duro demais,

como é possível ser mais um na claridade?

Ei, amigo, eu sei o que é anoitecer

longe de onde o sol nasceu

Ei, amigo, o tiro depois da porrada

o sangue é o outro sol na calçada,

morrer paga a dívida e encerra a questão,

é preciso pressa antes que o pé saiba aonde vai

Ei, amigo, seguir em frente é entender a sombra,

a rua é sempre embaixo do viaduto

só a carona serve de condução,

de hoje em diante lugar fixo é o horizonte

Eu sei, a noite é uma saudade

feita de castelos de areia desmoronando

o fugitivo estende a sombra da pistola,

amigo, a bola e a corrente prendem o sonho no chão