Jovens Apolos

Belos jovens ostentam corpos perfeitos.

Eu, por pura inveja, rotulo-os de vazios.

(mas advinho quanto frequentam todos os cios).

Observo-lhes o riso, o perfume

e sinto a dor do meu ciúme.

Temo perder-te

para jovens belos.

Finjo sorrisos amarelos,

mas logo transpareço

a dor que me causa

imaginar-te noutros braços

e presa em outros laços.

Procuro a juventude que vivi.

A beleza que imaginei um dia possuir.

Mas sei que ambas ficaram no Tempo Vizir.

O Tempo me levou,

e como troco deixou

essa sandice

de só saber amar

com ranço de pieguice.

Tanta vida gastei

para te encontrar.

E tanto me custou, moça,

que temo que já não me ouça

a necessária sobriedade

de tomar de teu vinho

com a leveza de passarinho

qie redescobre caminhos no ar.

Belos jovens Apolos

o sol os doura

e os revela.

Invejo-lhes a beleza,

mas num surto de consciência e certeza

vejo-os como ao meu próprio filho,

cujo riso escancarado

convence-me do que eu trouxe do Passado

e que talvez te mantenha ao meu lado.

Acaricio a tua e a minha lembrança

e revivo o que fui criança.

Dessas, que se nada alcança

tampouco se cansa.

Caminho para o Destino

e quero andar contigo.

Eu sei que em dois já hão haverá perigo.

Pelo menos, não antes do próximo abrigo.