SUPREMA OUSADIA
Meu Sonho (Cecília Meireles)
Parei as águas do meu sonho
para teu rosto se mirar.
Mas só a sombra dos meus olhos
ficou por cima, a procurar...
Os pássaros da madrugada
não têm coragem de cantar,
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar.
Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar?
Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar.
*
MEU SONHO (Tânia Meneses)
Eu também fiz isto, Cecília,
E de coisa alguma adiantou.
Pois a sombra dos olhos sonhados
Por todo o horizonte se estirou...
As nuvens do entardecer
Vieram todas me dizer:
Não sonhes mais este sonho,
Este sonha não te quer sonhar.
Desisti de amanhecer
E na noite eu vou bordar
O bordado de meus olhos e
Entre estrelas fenecer.
O tempo não volta, eu sei,
É vão estes e outros versos tecer.
*
DOIS SONHOS
(TÂNIA MENESES ABUSA DA LIBERDADE DA POESIA E OUSA CASAR O SONHO DE CECÍLIA COM O SEU PRÓPRIO SONHO)
“Parei as águas do meu sonho
para teu rosto se mirar”.
Eu também fiz isto, Cecília,
E de coisa alguma adiantou.
“Mas só a sombra dos meus olhos
ficou por cima, a procurar...”
Pois a sombra dos olhos sonhados
Por todo o horizonte se estirou...
“Os pássaros da madrugada
não têm coragem de cantar,
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar”.
As nuvens do entardecer
Vieram todas me dizer:
Não sonhes mais este sonho
Este sonha não te quer sonhar.
“Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar”.
Desisti de amanhecer
E na noite eu vou bordar
O bordado de meus olhos e
Entre estrelas fenecer.
“Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar?”
O tempo não volta, eu sei,
É vão estes e outros versos tecer.
“Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar”.