Palavras
Benditas palavras
Malditas palavras
Representações de nossos simulacros
Nomes de todas as coisas sem nomes
Insignificantes
Onde vão quando preciso?
Palavras que sempre me faltaram
Quando tinham que ser ditas
Esquecidas no lapso do tempo
Entre a vontade de calar e o medo de dizer
Palavras macabras que sempre me seduziram
E definiram as coisas e as coisas que formam as coisas
E que também tornam indefinidas todas as coisas
Palavras malditas que sempre me assombraram
E sempre me enganaram
Quando diziam: não é nada! Não é nada! Não é nada!
É só a vida que dói assim mesmo
É só a realidade revolvendo o espírito
Palavras diabólicas
Que sempre me ocultaram o que sou
O que quero e o que penso
Por trás de elaborações fúteis
E de elucubrações inúteis
Sempre fizeram que fui nada
Que pensei nada e nada quis
E que nada fiz a não ser derramar em palavras
Essas coisas que nunca me saíam
Mas que sempre me escapavam
Essas coisas todas que nunca pude entender
A razão e o amor e a morte e o medo disso tudo
O desperdício de tanta vida
O tempo escorrendo para o esgoto do universo
E todas as nossas perguntas
Que não passam de palavras que buscam outras palavras
Mas agora é tarde
Outras palavras vêm calar as minhas muito mais
E levar você da realidade encastelada que lhe fiz
Bem na hora em que olhei para ela
Para não ver sequer sua sombra
Tarde, bem tarde, muito tarde
São as mesmas palavras
Que nunca quiseram ouvir de mim
Ouvem de outro como se fossem novas
E belas, muito mais belas
E como se soassem diferentes
Novas, limpas e claras
Mas são só palavras
Talvez as mesmas
As palavras que sempre foram rota de fuga
E que sempre se prestaram aos devaneios de uma felicidade
Bem ali...
Bem na boca do vulcão em erupção
Ou nas profundezas do abismo
Incompreensíveis palavras
Sempre foram suficientes
Para toda a ilusão de que precisou a vida
Para ser um pouco mais fácil de ser vivida
Para não machucar ninguém
Malditas palavras
Eu sempre quis gostar dos números
E bem que me enterrei no silêncio
Malditas palavras caladas
Mortas bem lá no fundo do poço
Sempre voltam
E se apoderam de tudo que é meu
Do meu confuso pensamento
Da minha razão inútil
E de minha ilusão infecunda

As palavras agora pesam
E não posso mais voar
Minha alma mergulha no vazio
E no escuro afunda
E habita na carne
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 16/11/2009
Reeditado em 28/08/2021
Código do texto: T1927600
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