Número um
Tudo o que tenho,
É tudo o que perco,
O que ganho sem merecer,
Ou que mereço no instante de perder.
Falso. Sozinho. Avesso.
Quantas vezes sufoquei o grito infame
Destes dias incompreendidos de vazio,
De ter o que não me pertence,
E perder a mim mesmo neste nada.
Nada mais.
Nem o grito.
Não o mereço.
Eu só esqueço a vontade
De ser essa força que grita,
Eu só esqueço de esquecer a dor
Que me arranca todos os gritos profundos.
E é tudo o que tenho.
Um grito na garganta,
Bem no fundo.
Eu o tenho
E o sufoco outra vez.
Número dois
Sou tudo o que não vêem
Vejo tudo o que não têm
Recolho os restos perdidos
Decoro seus rostos esquecidos
São só vultos nos meus sonhos
E na vida
De existir e de passar, passar
Nunca restar nada de mim
Nem em mim. Passo...
Só não passa a constância destas sombras
Tão escuras e tão minhas
Mas nada é meu de verdade
A não ser a vida não vivida
O que passa e não se vê
O que quase não resta
O olhar na escuridão
Número três
Eu quero você exatamente
Naquele momento que passou
Quero você, que seja, pelo menos na mente
Num instante que nunca acabou
Naquela hora eu senti que vivia
Hoje não, hoje só lembro
Hoje viver é uma mentira que dura
Quanto eu quiser, para quem eu quiser
Provo todas as máscaras sem você
Invento e sobrevivo
Mas não era assim
Porque para você nenhuma máscara minha serve
Para saber o seu rosto, completo, perfeito
Esqueço de esquecer
A luz do seu olhar
E o calor de um seu beijo
Aquele que não demos
Mas que quero exatamente
Número quatro
Os dias passam insólitos
Eu fico só, agitado por vazios tenebrosos
As noites chegam provocantes
E eu não sei o que vem depois
Por não saber o que vem antes
O medo apenas, medo de criar
Tudo aquilo que dá medo
Por ser vazio e insólito
Meu sonho é desistir da vida
Desse amor louco pelas sombras
Que não me reste a força de respiro
Que eu volte para o mesmo lugar
De onde não deveria ter saído
(E que eu desista do sonho, afinal!)
Algo se consumaria
Por mais que fosse vazio
Ou insólito, se consumaria
Eu descobriria que o sonho nao seria nada
Se não fosse de qualquer modo sobre a vida
E se a vida não se consumasse
Nesse medo apenas de criar
Número cinco
Por que todo poema só dura uma página?
Uma página.
É o que há de vivo em mim.
A dor, palavra que corta e trai.
Umá página e ponto.
Por que a vida só dura uma vida?
Uma vida...
E o que há de escrito de mim
Que não seja tirado da vida própria?
É essa dor cortante a me trair,
Numa só vida e ponto.
Por que a vida não é um poema?
Numa só página,
Durando eternamente.
E ponto.
Número seis
Nos meus ossos, nos meus anos,
Em todas as sobremesas e bom-dias,
Não há nada meu. Não seu como morri.
Sei apenas que esqueci
Meus rastros nas areias do tempo.
Meus mundos em universos perdidos.
Eternidades inteiras em que fui
Somente o que morreu eu mim.
Em todos os ossos e dias,
E nas noites e madrugadas,
Em que nada que haja que seja meu.
Passei como o tempo que me levou.
Desapareci em tantas mesas e conversas,
Nas filosofias todas.
Que porvir é esse? Nada mais é meu.
Sou o que inventam de mim,
Como, quando e por que querem.
(Sem mais palavras, essa dor é a última).
(Compostos entre 5 e 6 de dezembro de 2005, por Stela & Marcos Lizardo)
Tudo o que tenho,
É tudo o que perco,
O que ganho sem merecer,
Ou que mereço no instante de perder.
Falso. Sozinho. Avesso.
Quantas vezes sufoquei o grito infame
Destes dias incompreendidos de vazio,
De ter o que não me pertence,
E perder a mim mesmo neste nada.
Nada mais.
Nem o grito.
Não o mereço.
Eu só esqueço a vontade
De ser essa força que grita,
Eu só esqueço de esquecer a dor
Que me arranca todos os gritos profundos.
E é tudo o que tenho.
Um grito na garganta,
Bem no fundo.
Eu o tenho
E o sufoco outra vez.
Número dois
Sou tudo o que não vêem
Vejo tudo o que não têm
Recolho os restos perdidos
Decoro seus rostos esquecidos
São só vultos nos meus sonhos
E na vida
De existir e de passar, passar
Nunca restar nada de mim
Nem em mim. Passo...
Só não passa a constância destas sombras
Tão escuras e tão minhas
Mas nada é meu de verdade
A não ser a vida não vivida
O que passa e não se vê
O que quase não resta
O olhar na escuridão
Número três
Eu quero você exatamente
Naquele momento que passou
Quero você, que seja, pelo menos na mente
Num instante que nunca acabou
Naquela hora eu senti que vivia
Hoje não, hoje só lembro
Hoje viver é uma mentira que dura
Quanto eu quiser, para quem eu quiser
Provo todas as máscaras sem você
Invento e sobrevivo
Mas não era assim
Porque para você nenhuma máscara minha serve
Para saber o seu rosto, completo, perfeito
Esqueço de esquecer
A luz do seu olhar
E o calor de um seu beijo
Aquele que não demos
Mas que quero exatamente
Número quatro
Os dias passam insólitos
Eu fico só, agitado por vazios tenebrosos
As noites chegam provocantes
E eu não sei o que vem depois
Por não saber o que vem antes
O medo apenas, medo de criar
Tudo aquilo que dá medo
Por ser vazio e insólito
Meu sonho é desistir da vida
Desse amor louco pelas sombras
Que não me reste a força de respiro
Que eu volte para o mesmo lugar
De onde não deveria ter saído
(E que eu desista do sonho, afinal!)
Algo se consumaria
Por mais que fosse vazio
Ou insólito, se consumaria
Eu descobriria que o sonho nao seria nada
Se não fosse de qualquer modo sobre a vida
E se a vida não se consumasse
Nesse medo apenas de criar
Número cinco
Por que todo poema só dura uma página?
Uma página.
É o que há de vivo em mim.
A dor, palavra que corta e trai.
Umá página e ponto.
Por que a vida só dura uma vida?
Uma vida...
E o que há de escrito de mim
Que não seja tirado da vida própria?
É essa dor cortante a me trair,
Numa só vida e ponto.
Por que a vida não é um poema?
Numa só página,
Durando eternamente.
E ponto.
Número seis
Nos meus ossos, nos meus anos,
Em todas as sobremesas e bom-dias,
Não há nada meu. Não seu como morri.
Sei apenas que esqueci
Meus rastros nas areias do tempo.
Meus mundos em universos perdidos.
Eternidades inteiras em que fui
Somente o que morreu eu mim.
Em todos os ossos e dias,
E nas noites e madrugadas,
Em que nada que haja que seja meu.
Passei como o tempo que me levou.
Desapareci em tantas mesas e conversas,
Nas filosofias todas.
Que porvir é esse? Nada mais é meu.
Sou o que inventam de mim,
Como, quando e por que querem.
(Sem mais palavras, essa dor é a última).
(Compostos entre 5 e 6 de dezembro de 2005, por Stela & Marcos Lizardo)