O ÚLTIMO BARBEIRO DE SANTO ANTÔNIO DE JESUS

quis tanto a cidade grande!...

Seu mar, pouco:

conformara-se barbeiro de esquina,

de porta de praça...

[queria mar]

Maneca do Fole acaba de bater o seu primeiro gole,

D. Mariazinha Beata mordeu a hóstia

– pensa estar livre de todos os seus pecados –,

Zé Carteiro, apressado, anuncia:

– Almiro Poeta: carta!

[quis tanto a cidade grande que pedira um gole de mar]

Padre Olavo, da calçada, a falar só de política,

Sinfronio Marceneiro, a martelar, a armar, a firmar o palanque,

Maestro Xáxá a lustrar a batuta

e Florentino Fogueteiro a preparar os Judas:

é sábado de aleluia!

Cansara-se das mesmices dos sábados de aleluia!...

[quis tanto a cidade grande que precisava beber o mar]

logo, logo, professor Aristóteles lerá aquele mesmo testamento

– invejava o seu falar –,

e o prefeito Ozires lhe pedirá urgente:

cabelo, barba e bigode

rente rente;

apesar de Almiro concordar com a oposição

[quis tanto a cidade grande que quer aqui a mar de lá]

o alto-falante anuncia a hora da Ave-Maria,

casais na praça, a namorar;

cinco minutos, exato:

Silfredo Radialista dedica aos apaixonados uma pungente página musical

[é tão pouco o mar de cá]

depressa, a carta do Zé Carteiro!

A lê. A mala!...

E deixa pro passado a sua sina de barbeiro.

[quis tanto a cidade grande que quer engolir o mar]

a passagem, só de ida:

cidade grande, grande mar, mar inteiro!...

[queria mar]

Santo Antônio de Jesus?...

foi esquecer.