Meu cantar
MEU CANTAR
Eu canto e sofro ao cantar,
por mães que embalam forte,
pequenos seres a morte
e na ânsia esperam doutores,
na sina dos corredores.
Eu canto, meu lamento,
por pensionistas anciãos
que hoje penam em vão,
por salários tão minguados,
nas filas de aposentados.
Eu canto e peno ao cantar,
por desesperados sem tetos
e desabrigados sem afetos,
que vivem na pobreza,
de tristes migalhas sem mesa...
Canto, a tristeza de quem,
nas lides de campo e mangueira,
levava a vida nos tentos
e hoje busca sustento,
tropeando pelas lixeiras.
Canto por quem passou a vida,
“alambrando” campos alheios.
Por quem enfrentou a vida,
“horquetado” nos arreios.
Pra quem nada tem de seu
e por “maula suerte clavada”
mora, hoje, beira estrada,
na vida que “Deus lhe deu”...
Canto por quem não canta
e ao cantar não me esquivo
e, faço assim meus motivos,
para viver e lutar.
Canto pelos que sofrem.
Canto pelos que choram
e choro e sofro abraçado
aos que morrem por lutar.
Eu canto... E meu cantar é triste,
Porque, com certeza existe,
Alguém de cantar mais triste,
Que meu triste cantar...