LUSCO-FUSCO DE INVERNIAS
O crepúsculo anterior fora incomum.
A tarde trata de suas costelas.
Nas pálpebras da noite,
a violência da intempérie.
De início, havia apenas escuras nuvens.
Depois, vento e chuva.
Pestanejavam rasgos de luz,
entre estrondos.
A água turva, ágil, aos borbotões,
encharcava frágeis sapatos
nas calçadas.
A tarde ainda trata
de calar dolorosas nevralgias
e dorme sob olhos claros.
O senhor do dia recompõe-se
do cansaço.
Há uma tropilha de potros alados
surfando ondas túmidas,
grávida de ventos.
E o mar ressona a canção de sempre.
– Do livro BULA DE REMÉDIO, 2006/2009.
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/191792