TRILHOS

TRILHOS

Eduardo B. Penteado

Olhos, olhos e tudo o mais

Vi teus olhos hoje na praça

Correndo soltos nos olhos do velho

Fitando os olhos do menino franzino

Iluminando as luminárias das Neves

E foi somente nesta praça

Flutuando num outro tempo

Fustigada por outros ventos

Que a chuva alagou os trilhos do ontem

E como nos filmes antigos

Tudo ficou mudo e foi-se a cor

Tudo pode, nas histórias de amor...

A chuva encheu o ar com o cheiro de teu suor

Num rompante, sem conter tal ardor

Peguei minha saudade pela mão

E dancei na praça uma valsa

Um rock, um baião

Refrescando na chuva torrencial

Os sintomas da minha paixão

E dançando uma coreografia de raios

Canalizei o que havia fantasiado

Para um ponto inerte do meu passado

Até achar-me num nicho imaginário

Um segundo além do presente

Sempre um segundo distante

Mas vi-te passar tantas vezes de carro!

Com tantas pessoas conversaste!

Um segundo após o raio

Tudo era de novo uma grande ausência

Como a chuva caindo nos trilhos do bonde

Que hoje não quis se molhar.

Eduardo Barcellos Penteado
Enviado por Eduardo Barcellos Penteado em 11/11/2009
Código do texto: T1916960
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.