RELENTO

RELENTO

Eduardo B. Penteado

Voltei à tal da praça molhada

Onde antes eu vinha chorar

Mais uma vez, só mais esta vez...

A praça está úmida e o hoje é seco

O beijo é soco, o amor é relento

E todo o resto vai ficando assim

Em Santa Teresa, em meu pensamento

Em minha caneta e em torno de mim

Não adianta entender o que houve

Pois tudo o que foi foram nadas

Um livro impresso em tinta branca

Um almanaque de fotos veladas

Um almanaque e meio

Lábios... longe... seio.

A lágrima que teima em não cair

O bonde com medo de se molhar

A palavra difícil de sair

O silêncio, o ruído, o olhar.

Um vento noturno diz a que veio.

O velho lustre balança, será?

Um velho ilustre a se embriagar

O ilustre balança e vai desabar

Assim como o céu, a chuva e o mar

E eu me pergunto, pensando, a sorrir

“De onde vir? Para onde partir?”

“Não sei,” disse minha alma pequena

“Nem sei o que trouxe você aqui.”

Digo adeus ao velho, ao lustre e ao bar

Fecho os olhos

E deixo o vento me dispersar.

Eduardo Barcellos Penteado
Enviado por Eduardo Barcellos Penteado em 11/11/2009
Código do texto: T1916959
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