MUTISMO
Tanto tempo esperei
até que as folhas tristes
caíram
até quando o frio torturava
o espírito
até o amanhecer quente
do verão
e o sol queimou o corpo nu.
Folhas, frio, vento e verão.
Durante esse tempo amei.
E o amar acalentou esperanças,
enfim, gastou-me o tempo.
Amadureci frutos
cresceram crianças
e impotente:
estrelas.
Ouvi o mundo
frutos, cirandas, estrelas.
Conformei idéias,
pássaros fugidios,
e quando quis apresá-los
(impedindo fugas)
aprisionei-me.
Gritei liberdade:
folhas, frio, vento e verão,
crianças e estrelas.
Em vão:
o frio restou da espera
e no tristonho da noite
o encontro calou.
– Do livro FORÇA CENTRÍFUGA. Porto Alegre: ed. Porto Alegre, 2ª ed., 1979, p. 69:70.