ERABESTIAL

Minha canção oferta um minuto a mais

ao cru horizonte da guerra.

Olho um caminho e olho uma vida,

mas nos meus olhos não há cola.

Colo minha meia por ter acabado a linha.

Suspiro na estrada por ter me faltado o argumento.

Um Tarzan urbano assalta uma loja de conveniências.

Acabaram-se as medalhas. Continua o jogo.

Eu sofro com a minha tosse, mas sou obrigado

a pensar no escarro filosófico do mundo.

Ainda há alma na principal avenida.

Ainda vive a mão que me esmolou uma esperança.

Meu cansaço não atravessa a nado o rio da existência,

porque seus pés calçaram um Reebook sem cardaço.

Chora ó menina futura, caduca de vinte poucos anos,

seus olhos nascerão cansados por causa da velocidade do mundo.

Há pressa no carro do meu vizinho.

Há pressa na metralhadora do guarda.

É preciso guardar o cenário depois do espetáculo.

É preciso guardar os artistas antes de apagar as luzes do teatro.

Micro sentimento comendo um pedaço da minha luz.

Não há mais velas para iluminar o meu porão.

Chora ó último dos poetas e sacode a vida de ti:

Começará a nascer da sua costela o poeta pronto.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 10/11/2009
Código do texto: T1915911