UMA MINHA ALMA
Minha alma carrega o eterno osso de ir vivendo.
Um ponto uma cruz um rio
e um palestino jogando o umbigo no xadrez.
Tenho um sonho grande,
só que ainda não terminei a minha sopa.
Conspiro alguma razão.
Mas Maiakovski também.
A Rússia é apenas o cansaço da geografia.
A Rússia engoliu o mapa não por fome.
Por cansaço dos seus inventores.
Minha alma carrega um carrinho de supermercado
e sonha com uma rua cheia de árvores.
Minha alma carrega um berimbau
mas dorme ao primeiro suspiro da música.
Sou um cristão chapeando suas possibilidades.
Descanso minha mão para que no repouso
eu possa aprender a desaprender a hipocrisia.
Os ossos da minha perna gemem.
Eles, porém, não são eloqüentes:
gemem ao pé de um rio silencioso.
Há na minha mesa um poeta querendo ser inventado.
Há no meu pensamento um mundo implorando existência.
Sou, no entanto, descompaixonado para com as coisas da razão.
A melhor razão é a que sai do caminho e diz: siga.
Minha alma come cuscuz no bosque do Anhangabaú,
Sonhando com os sonhos de algum pacifista morto e louco.
Respiro meu ar sem democracia para com a filosofia da vida.
Minha filosofia é ir vivendo.