MOMENTO
Olho para fora de mim: não há um cercado
para que eu possa guardar meu próprio mundo.
Estou caminhando mas meus pés descobriram
uma forma de dor que não me abandona.
Posso parar um pouco e chorar.
Choro, no entanto, meus olhos não são fortes.
Queria mudar a direção de algum rio meu,
mas o que há de meu nele
no pode ser modificado: sou apenas um vigilante
de minhas próprias posses.
Solto timidamente o meu grito.
Ele voa. Não como asas. Voa como
Um metal, que sabendo-se instante,
previne o surdo da queda.
Uma fome de sentimentos reivindica em meu mundo
a particularidade de uma janela.
Precisa de vento, de sol, de luz.
Minha fome de não ter fome alguma, porém,
se alimenta de minhas paixões.
Como fogo adestrado, corrompo minhas estações
para não modificar o sorriso ou o choro das gentes.
Ando, com uma multidão de pés, máquinas e pergaminhos.
Não procuro no túnel uma saída.
Não busco uma estrada que seja diferente.
Não vou atrás dos prêmios e consolações que a vida
distribui em seus gigantescos chapéus.
Busco, procuro - ouçam-me - apenas
a companhia de alguma voz no caminho e
talvez o perfume das rosas mais simples.