POEMA VAGABUNDO

já fiz de tudo

de tudo tentei

querendo fazer poesia séria

comportada

burilada e ouriversada

medida metrificada

luto e luto

Mas a minha poesia é aérea

ela é o meu retrato

o calo

e também o sapato

é prosa no fim da tarde

passatempo

livre como o vento

não consigo

aquela produção e arte

meu verso tem cara lavada

só gosta mesmo de batom

de uma mesa reservada

de um garçom

meu poema é vagabundo

bêbado esticado na calçada

minha rima

é uma rima madalena

apedrejada

já me esforcei

para a minha estrofe dominar

submetê-la aos moldes clássicos

à rigidez

Ô poesia rebelde

teimosa

cismada como eu

não aceita apanhar

sou igual ao poeta que disse

não me diga por onde devo ir

sei a hora de entrar

esqueço a de sair

amo a madrugada

e se homem eu fosse

tudo quanto é musa conquistaria

tomaria cachaça até cair

jamais para casa voltaria

rua, lugar bom de se dormir

os gatos, meus companheiros

lamberiam os meus pés

a rua, meu navio

o bar, meu convés