ENTRE RIO E MAR

Vim ver o mar

Estou sobre o rio

Sob o céu nublado

As ondas gigantescas

Cobrem o calor

Infiltrado pelo vulcão subterrâneo

Como injeção de nucleares;

Naveguei com ventos fortes

Parei na praia

Vi um bem-te-vi

E uma arraia

O leme quebrou

As velas partiram em pedaços

Como descartes de munições;

Precisei de muito tempo

Em pouco espaço

Descobri que o tempo não é muito

Pois a vida é curta

Entre o rio e mar: uma pororoca

O percurso do rio é longo

Entre a vida e a morte?

Olhar penetrando fundo

Envolvendo o pensamento

Em volta do vento

Apenas um contentamento

Sei que é vasto

Mas sei que não agüento

Contornar o mundo;

Poderia navegar sempre

Sem parar para admirar

Sem entender o porquê de continuar

Ou continuar sem entender

Ou continuar não entendendo;

Na viagem descobri

Descobri que devo descobrir sempre

Não deixar para depois

Não esquecer o antes

E viver o agora no mínimo a dois;

Tropecei, cai e me machuquei,

Mas ergui e sarei

E pude continuar remando,

Porém não havia remos

E parei

Arremessando o corpo ao mar;

Logo que meus pensamentos inundaram

Percebi que ao pular no mar

Outros pensamentos ficaram,

No rio fiquei caído

E de repente por uma corrente

Fui sendo erguido;

Quando a salvo no convés da canoa

Eu vi uma bela paisagem

Ao longo de sua proa:

Espinhos inexplicáveis,

O Rei e sua coroa;

Foi-se ao mar

De encontro com o manso rio alvoroçando,

No final do ar

Era meu pulmão, que seus últimos ia respirando,

Vento forte corrente de ar quente

Frente a frente se debatendo com polares,

Então pude compreender a fúria das águas.

Júnio Dâmaso
Enviado por Júnio Dâmaso em 10/07/2006
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