ENTRE RIO E MAR
Vim ver o mar
Estou sobre o rio
Sob o céu nublado
As ondas gigantescas
Cobrem o calor
Infiltrado pelo vulcão subterrâneo
Como injeção de nucleares;
Naveguei com ventos fortes
Parei na praia
Vi um bem-te-vi
E uma arraia
O leme quebrou
As velas partiram em pedaços
Como descartes de munições;
Precisei de muito tempo
Em pouco espaço
Descobri que o tempo não é muito
Pois a vida é curta
Entre o rio e mar: uma pororoca
O percurso do rio é longo
Entre a vida e a morte?
Olhar penetrando fundo
Envolvendo o pensamento
Em volta do vento
Apenas um contentamento
Sei que é vasto
Mas sei que não agüento
Contornar o mundo;
Poderia navegar sempre
Sem parar para admirar
Sem entender o porquê de continuar
Ou continuar sem entender
Ou continuar não entendendo;
Na viagem descobri
Descobri que devo descobrir sempre
Não deixar para depois
Não esquecer o antes
E viver o agora no mínimo a dois;
Tropecei, cai e me machuquei,
Mas ergui e sarei
E pude continuar remando,
Porém não havia remos
E parei
Arremessando o corpo ao mar;
Logo que meus pensamentos inundaram
Percebi que ao pular no mar
Outros pensamentos ficaram,
No rio fiquei caído
E de repente por uma corrente
Fui sendo erguido;
Quando a salvo no convés da canoa
Eu vi uma bela paisagem
Ao longo de sua proa:
Espinhos inexplicáveis,
O Rei e sua coroa;
Foi-se ao mar
De encontro com o manso rio alvoroçando,
No final do ar
Era meu pulmão, que seus últimos ia respirando,
Vento forte corrente de ar quente
Frente a frente se debatendo com polares,
Então pude compreender a fúria das águas.