Sem nome
Que parte de mim eu conservei?
Que parte não te foi entregue
ou de que parte não te apropriaste,
enquanto eu me via esvair-me, lentamente?...
Quem há que,
olhando-me,
veja mais que o vazio?
Ou, se me fitar na superfície,
(como em superfície contemplam-se densas trevas
em que não se deseja mergulhar),
quem verá senão um espelho de ti?
Pois te apossaste de mim,
e eu o permiti: até os vazios, me tomaste todos!
E os revestiste de um vazio mais duro e lancinante:
tua presença árida!
E assim, cheio de ti, não me restaram sequer fragmentos
para recompor-me.
Pois levaste os sorrisos e os prantos
(até os prantos mais recônditos, os que me afogavam a alma...
e mesmo a alma não me deixaste!),
levaste os arcanos e as quimeras,
as memórias todas, até que só de ti eu me lembrasse!
E, como nada sobrou de mim,
preencho contigo estes versos...
E os oferto a ti, em oblação acabada e breve!