Sem nome

Que parte de mim eu conservei?

Que parte não te foi entregue

ou de que parte não te apropriaste,

enquanto eu me via esvair-me, lentamente?...

Quem há que,

olhando-me,

veja mais que o vazio?

Ou, se me fitar na superfície,

(como em superfície contemplam-se densas trevas

em que não se deseja mergulhar),

quem verá senão um espelho de ti?

Pois te apossaste de mim,

e eu o permiti: até os vazios, me tomaste todos!

E os revestiste de um vazio mais duro e lancinante:

tua presença árida!

E assim, cheio de ti, não me restaram sequer fragmentos

para recompor-me.

Pois levaste os sorrisos e os prantos

(até os prantos mais recônditos, os que me afogavam a alma...

e mesmo a alma não me deixaste!),

levaste os arcanos e as quimeras,

as memórias todas, até que só de ti eu me lembrasse!

E, como nada sobrou de mim,

preencho contigo estes versos...

E os oferto a ti, em oblação acabada e breve!

Alan Oliveira
Enviado por Alan Oliveira em 08/11/2009
Código do texto: T1911943
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