A Palavra.
A selva de silêncios guarda a fera
E marca territórios no saber
Desfaz na luz a noite noutras eras,
Está no bardo por ser e não ser
Em mares nunca dantes navegados
Nas lutas surdas busca renascer.
A linha do presente e do passado
Aponta novas rotas e o porvir
Do mundo emergem rumos indomados,
E novos mitos prontos pra cair
Porém, a letra grata da memória
Encerra a lavra aclara a causa em si,
Cobrindo nas derrotas, nas vitórias
A cura certa, as faces do imortal,
Conforma o fato, a foto e tece a glória.
Encobre a sombra e torna o bem em mal
Na luz que ganha força quando avança
E evoca a divergência que há no igual.
A letra franca vive quando alcança
Desnuda o rosto, o fato e mais além;
Desmente enquanto toda mente cansa,
A lavra turva da palavra amém
Ousa e grita louca, acusa a demora
A reza torta encontra o céu também.
Palavra força a fé, atesta a penhora,
Verdade falsa arrisca e marca a dor
A pedra rica é luz, vibra e devora
Na treva que contraí sem esplendor
Pois quando o Verbo vai se devorando
A lavra algoz se faz palavra em flor.