Enigmática

Então eu perguntei ao anjo que habita o fim do mundo:

Como escrever um verso que contemple a vida e a morte

O sonho amargo, o despertamento indócil

As cartas dos antigos declinando a sorte?

De onde vem a solidão de um verso

Se a alma, que é gêmea da poesia

Quer dançar na eternidade, apenas

O seu momento breve de alegria?

Porque só o sofrimento constrói o álibi

Da lágrima, que humildemente lava a alma

E o grito somente distrai o coração

O homem não consegue ir além do homem?

Que força estranha move um canto

Em graça, movimento e fino odor

Que fustiga os confins da existencia

E abraça a musica e a flor?

De onde virá a palavra, o gesto, o bálsamo

Que abrandará o dor dos homens?

E ele não me respondeu,

Discretamente não me respondeu!