RECATO
RECATO
Eduardo B. Penteado
Tu, que estás sempre presente
A cada dia num rosto diferente
Anônima e perdida entre minhas lembranças
Memórias de um tempo de recato, distante
Em que todo o meu amor cabia numa estrofe
E todo o meu desejo, num olhar de relance
Olhar que despia teu tabu num segundo
E te vestia com toda a libido do mundo
Assim, sem mais nem menos
Como num longo estalar de dedos
Te fazia mulher
À sombra de minhas ilusões e medos
Sempre te amei assim, nas sombras
Como a platéia contempla a atriz
Como a alcatéia fantasia amores de camarim
Que gosto teria teu beijo num camarim?
Nunca ousaria dizer-te estas linhas trêmulas
Pensava eu
Mas agora é tarde demais
A língua bateu nos dentes
A represa se rompeu
Mas valeu
Acho eu
Adeus.