RECATO

RECATO

Eduardo B. Penteado

Tu, que estás sempre presente

A cada dia num rosto diferente

Anônima e perdida entre minhas lembranças

Memórias de um tempo de recato, distante

Em que todo o meu amor cabia numa estrofe

E todo o meu desejo, num olhar de relance

Olhar que despia teu tabu num segundo

E te vestia com toda a libido do mundo

Assim, sem mais nem menos

Como num longo estalar de dedos

Te fazia mulher

À sombra de minhas ilusões e medos

Sempre te amei assim, nas sombras

Como a platéia contempla a atriz

Como a alcatéia fantasia amores de camarim

Que gosto teria teu beijo num camarim?

Nunca ousaria dizer-te estas linhas trêmulas

Pensava eu

Mas agora é tarde demais

A língua bateu nos dentes

A represa se rompeu

Mas valeu

Acho eu

Adeus.

Eduardo Barcellos Penteado
Enviado por Eduardo Barcellos Penteado em 06/11/2009
Código do texto: T1907706
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