CORRENTEZA
Correm os dias e noites
correm os anos,
corre o rio de água vivas
às vezes caudaloso,
outras um fio...
Flui o rio teimoso.
Acima, calmo ou veloz;
no fundo, escorregadio.
No leito leva mistérios
pedras roladas,
plantas bailadas,
peixes gaudérios...
Não é só água que passa.
Vão as margens descoladas
na aguaça, a carcaça,
quem mergulha, quem lava;
gente que abraça a corrente...
A mesma água não volve.
O rio segue em frente, sozinho.
Entre a nascente e a foz
envolve outros no seu caminho.
Às vezes cala sua voz em represas;
outras, rompe barreiras
e se lança em profundezas...
Seu destino é ir. Sem regresso.
Sulcando a terra
no preciso tempo,
deixando rasto no vasto mundo
pra chegar ao mar
como um poema que se descerra...
Lina Meirelles
Rio, 05.11.09