[O Viés dos Sentidos]
[eu deliro, tu deliras...]
Ao longe, um cão na noite
ladra surdos mistérios
para a lua que some na névoa.
Os meus olhos confusos
vêem uma bela égua baia,
insone, solta na vida!
Ela pasteja, calmamente,
a verde grama do canteiro
central da grande avenida.
Eu, cá do alto das estrelas
que sobem no copo de cerveja,
olho, de viés, a égua solitária,
[cavalo da noite eu sou],
e penso na vida... penso
que a vida é mesmo cruel:
ela, sem me deixar falar,
ajeitou os cabelos, e acelerou o carro...
E aquela égua? Ara, não vi aonde foi...
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[Penas do Desterro, 06 de janeiro de 2007]
Caderninho das Cidades Mortas, p. 47