Afronegrodobrasil.

fui sozinho

deixei a música fluir

minha própria levada

malemolente

sentindo cada samba

que no coração gravei

desconcertante ao olhos alheios

esse nego tem mola na cintura

comentou a loira que não era burra

sua amiga foi ligeira

pediu a todos que afastassem as cadeiras

introduziu no salão passos de capoeira

grudou no nego de jeito

e rodou

feito hélice de helicóptero em forma de baiana

enquanto as mãos do criolo

malandramente acariciavam sua cintura

mapeando o perímetro

puxando o corpo da moça pra junto

entre suspiros foi dizer

existe algo entre nós

que me toca à alma

faz mexer

um crime

seu corpo é arma na horizontal

engatilhado

pecado

anti-cerebral

no centro do salão

sob a luz dos holofotes

os dois encaixados

e as pessoas em volta

se fundiram

tornaram-se um cenário

sem semblante

meros figurantes

da paixão que surgiu

no molejo mais puro

do afronegrodobrasil.

Marco Cardoso
Enviado por Marco Cardoso em 09/07/2006
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