Poema para um Amor - IX
Entre os meus dedos
Derrama-se o anoitecer
Cobre-me um horizonte de estrelas
Enquanto vagueio pelo impreciso
Ouço o canto noturno da solidão
Eloquência definitiva da tua ausência
Trazida pelos acordes de Chopin
Por sobre os meus lábios
O esplendor lasso
Do teu sorriso enigmático
No presumir da imaginação
Teu olhar e minha vida
Na uníssona linha do infinito
Entre as páginas suspensas
Do meu pensamento,
A tua e a minha história
Grafadas em tantas esperas
Meus olhos atravessam o longe
Sem qualquer hesitação
Percorrendo os passos
De uma óbvia saudade
Nada é incompreensível, nem impossível
Quando o coração regressa
Ao caminho que tanto reconhece
Sei dos braços que me esperam
E dos olhos que se fixarão nos meus
Sei da palavra ansiada e desejada
Que me estenderás
Quando se fizer silêncio
Entre a minha e a tua boca
Volto-me a que sou
Em frente ao sonho
Tão íntimo, tão próximo
A revelar-me o secreto desejo
Nenhum gesto a limitar-me
A carícia, o toque, o desvelo
Um mistério se prolonga
Nesta paz súbita de te pertencer
Tu, doce e indelével miragem
Imagem vertiginosa e mansa
Plasmada para as minhas mãos