Metamorfose

Um dia certa lagarta

Afastou-se, foi pra mata

Sem entender muito bem

Tudo, tudo que sentia

Só sabia-se refém

De grande melancolia

Na mata subiu num galho

Pois pressentia o trabalho

Que teria pela frente

Não tinha bem a certeza

Mas sentia ser premente

Findar aquela tristeza

Neste galho que subiu

Começou a fiar fio

Com gesto certo e jaculo

Ao findar a sua trança

Estava pronto o casulo

Para tempos de mudança

No casulo acomodada

A melancolia danada

Em sono se transformou

Foi um sono muito profundo

Que dela se apossou

Sentia-se fora do mundo

Passado o tempo que a vida

Que pra tudo tem medida

Confere a toda lagarta

Pra passar na porta estreita

Em seus casulos na mata

Pra vir a ser borboleta

A lagarta novamente

Sentiu assim, de repente

Aquela estranha agonia

Que a chamava pro mundo

E que não lhe permitia

Adiar um só segundo

Foi forçando a passagem

Pediu aos céus coragem

Pois sentia que a vida

Num instante assim premente

Por razão desconhecida

A fazia diferente

Já não se reconhecia

Não era a mesma que um dia

Pela vida fora chamada

Com grande admiração

Percebeu-se, agora, alada

Livre daquela aflição

E agora com graça e arte

Voeja por toda parte

Muito dengosa e faceira

Voeja de flor em flor

Numa sutil brincadeira

De beijos da cor do amor