PIPAS AO VENTO

Deixai que o tempo se mova

com seus cordéis de prata.

A vida, ampulheta da morte,

jamais dará resposta.

Olhai o mar encapelado

e vede como é forte

a ira dos elementos.

Cantai, ó bardo triste;

O canto é a torre das auroras.

Morre a noite e, presto,

levanta-se a pálpebra do dia.

Cantai, humanos.

É para isto que nascestes!

Viestes ao mundo para vencer!

Renova-se, a cada noite,

o reconstruir das lembranças.

É de sonhos o futuro,

e de Ciclope o olho em que me vejo.

Ainda assim, manejo

ventos e esperanças,

com o segredo das pipas,

os longos rabos ao vento.

– Do livro O POÇO DAS ALMAS. Pelotas: Universidade Federal, 2000, p. 67.

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/1903005