Espelhos

Nas horas longas

da noite, longa e fria

Busco-me, em espelhos,

em uma busca vazia.

Espelhos?

Que sabem de minha alma?

O que é que sabem de mim?

Se lhes mostro a face calma

Me dizem que sou assim

Só imagens evanescentes,

só sombra refletida

traiçoeiras como serpentes

que nada dizem da vida

Da vida real do “Eu”

Da alma aprisionada

Num corpo que lhe tolheu

Que lhe mantém limitada

A alma assim dominada

Pede mergulho profundo

Para vencer as arcadas

Que dão acesso a seu mundo

Transpostas estas arcadas

Que são guardiãs do saber

Vencidas as emboscadas

Que se escondem em querer

A alma, então, se revela

Deixando transparecer

O “Eu” que sai de sua cela

E é o verdadeiro ser.