PERPLEXIDADE

não há como mostrar a face alegre do meu rosto,

envelheci

[estupidamente, envelheci]

como envelheceram os que gastaram a vida!

[o tempo, apenas um acontecimento]

indo envelhecendo,

tentava um riso juvenil de quem não respeita a própria idade

gastei o tempo –

como falou o poeta Carlos Drummond de Andrade

e fui me percebendo estátua

– desmovimentado –

como estão agora os meus músculos da cara

[!]

tentei até comemorar aniversários

[ah, lhes juro: tentei!]

... e como eram entediantes aquelas reuniões só com homens de meia-idade!...

O que me resta de amigos?... Todos viúvos!

[é lenda se dizer que a mulher fez um pacto de longevidade com o Senhor]

aos telefonemas, evitei atender:

os que me ligaram ontem, certamente me ligarão no ano que vem

[...]

aqui,

aos não sei quanto de idade,

tento mostrar a face mais alegre do meu rosto

[não há]

envelheci,

deram-me outra cara!