Nunca mais...

Não sei se direi nunca mais...

Não sei se voltarei a amar assim

Não sei se entre os canaviais

existe um canto onde te lembres de mim...

Não sei se a vida é justa ou errante

não sei se amores destes têm segredo

não sei se a tua boca é minha amante

nem sei se também dela tenho medo...

Sei que nada me afasta da lembrança

o teu toque, os beijos e os olhares

sei que contigo sou uma criança

que doa a alma para brincares...

Sei tanta coisa que pouco sei

nem quero saber para além da ilusão!

Se esta se perder, é porque errei

ao deixar-me guiar pela emoção...

Não sei de onde trazes os seios

nem imagino de onde te chegam as mãos

sei que montaste os arreios

no potro que galopa no meu coração...

Por vezes da lua tens ares

brilhando com luz roubada

iluminando ruas e bares

com essa mancha prateada...

Não é tua mas dás-lhe graça

não é tua mas dás-lhe fulgor

és como uma brisa que passa

para mitigar o meu calor...

Tens da lua a soberania

tens dela a altura e o porte

como ela sofres ao romper do dia

pois com ele chega a tua morte!

Nunca mais a olharei

com olhos de indiferença

pois de ti me lembrarei

logo que a veja à nascença...

Tu e a lua são intocáveis

longínquas, lindas e perfeitas

tal como as vontades incontáveis

de quem errado escreve em linhas direitas...

Nunca mais algo assim se escreverá

pois a vida não vos fez em duplicado

nunca mais a luz da lua morrerá

nem eu...Apenas por te ter amado!

Jacinto Valente
Enviado por Jacinto Valente em 02/11/2009
Reeditado em 17/02/2021
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