SILÊNCIO!
Silêncio,
Uma aura, outra gruta,
Como se fosse uma beirada qualquer
Cássia Eller no rádio
I got a felling, felling
Oh now, oh now
Qual era a estação?
Que tudo era pra sempre
E o sempre, sempre acaba,
E você ainda quer receber
Você está dando voltas
De volta pra casa
Eu arrumei os meus livros
E você não veio buscar sua revista
Eu queria mais um emprego
Você foi logo pensando no meu dinheiro
Agora tanto faz, sem perceber,
Onde está o Renato Russo?
Deve ter dado alguma bobeira
Essa Sade Adu não me sai da cabeça
Eu queria ouvir um blues
Eu queria ler o Blake
Mas você tinha que se perder
Tomo mais uma dose de conhaque
Outro cigarro na boca
Um tesão desenfreado,
A música continua tocando
Uma partida interrompida de pinball
Tem um dinheiro pra receber
Aquele filho-da-puta
Me deve tanto, tanto, tanto
Mas eu cato ele na curva
Cadê os meus óculos?
Achei minha lapiseira,
Agora já posso escrever
Vamos virar mais uma página
Uma música do Sting
I'm going from América
Não, não é a letra,
Pensa um pouco, pense porra!
O que você tem na cabeça?
Você não sabe que dia é hoje
Acho que não vai entender
A fumaça de outro cigarro
Quase silêncio
Tem um vulto no Jardim
Espelho, fim, espelho,
O parapeito do pára-raios
Aquele rato vai correr
Mas que porra de mês!
O relógio está piscando
Aquela altura, outro vulto,
Dicionário completo da língua portuguesa
E a Bethânia está perguntando
Quem me chamou?
Onde você vai crescer?
Cada vez que mundo diz não,
O leão ruge, a raposa olha, a lebre assusta,
Você verá que é mesmo assim
Mesmo que você responda sim
Aí o mundo diz de novo, não,
Foda-se se você quer amar
Mas & quando o Sol aparecer?
Sorry seems to be the hardest word!
Você pode optar por outra coisa
Seopping for love!
Aí, talvez eu cante alguma coisa...
Ou ela vem & me canta
Até o dia entardecer
Pode ser muito tarde
Pode ser mais uma vitória
Quem se importa com perdedores?
Mais uma dose, mais um cigarro,
Vou preparar meu jantar
E quem sabe amanhã, eu continuo.
Ouvindo um CD do Joe Cocker.
Ainda ouvindo The Uppity - da Saffire
Colocando o dedo na ferida
Passando várias imagens
Daquela foda não dada
Perdi um tesouro ao meu ver
Agora do outro lado do mundo
Mais dois dentes perdidos
Mais um dia de espera
O dinheiro vai sumindo, sumindo, sumiu,
Como demora receber aquelas embalagens
Ela está pensando na viagem
Antes vamos sair ao anoitecer
Tem alguma coisa cruzada
Mais sei que tenho santo forte
A boca está mais sensível
Vejo a cara do Sol
Ainda falta, pra passar o inverno,
Não posso ficar até a primavera
Olhando o tempo escrever
98 está igual a 88
Passei pela mesma fase
Achei que não ia passar mais
Outra música no CD
A luz piscou duas vezes
Vou sair pela cidade
Sem medo de me perder
Um passo, outro & outro, &...
O tesão continua o mesmo
Estão baixando os olhos
O feio que Narciso acha feio
Mas eu não sou Caetano
Só o Gil pode perceber
Cadê aquela grana
Isso eu já perguntei
Roda, moinho, roda viva,
Como giramundo, roda de novo,
Tem uma arma apontada pra mim
Outro sonho, sonhado sonho,
Você ainda vai enlouquecer
Pra onde foi o raciocínio?
Círio, sino, sina, um sinal,
Tábua de parada de ônibus
O out-door mostra seu sexo
Se você não andar de pressa
Mais tarde vai chover
Você quer saber do ritmo
Um blues evidente
Não, arranquei dois dentes,
Isso eu já disse
Olha, lá vem o ônibus,
Sai da frente, ele quer correr,
Sim, sempre tiveram outras,
Outra solidão, solidão & afins,
Dura pra se ver de mim, apenas pó,
Busco outro cigarro
Estou sem carro, feito a pé,
E de passo em passo
Vou até Santander
Estou entre quatro paredes
A fechadura da porta
Sorri para mim
Quase me mostra a língua
Ela sabe que você vem mais tarde
Zombando, zoando, zomba,
Minha boca começa a doer
Um vidro trincado no banheiro
Mais um jogo sábado
Preciso colocar minha sorte em dia
Uma seqüência de números
Uma melodia translúcida
O nome do sacado
Só minha mãe sabe o que vai acontecer
A fumaça sobe para a janela
O computador ficou amarelo
Ninguém bate na porta
O telefone não toca
O que está faltando?
Caiu de novo a bolsa
Mais uma criança vai nascer
Fui procurar o Louis Armstrong
O Último Matador, O Sorgo Vermelho,
Minha Adorável Concubina,
O Bruce & a Demi não formam mais um casal
Tem um monte de remédios de papel
Com mais um canal daquele Tunner
O apartamento continua perdido na cidade
Outra hora vai passando
Preciso ligar para o amigo Renato
Vamos falar de disco, filmes & trabalho,
De como vai indo a vidinha
Se tiver visto os "amigos"
E das coisas que eu tenho pra ele ler
Preciso comprar cerveja
Conservar em lugar fresco
Mais um depósito no banco
Passar a limpo um texto
Arrumar meus arquivos
Está faltando uma frase
Tem tanta coisa faltando, a saber...
Cuidado!
Não sou normal!
É a síndrome dos tempos
Viramos verdadeiros animais
Mal conseguimos nos falar
Mesmo depois da Internet
Outro bicho de sete cabeças
Uma medusa louca & desesperada a sobreviver
Sem coragem para ter coragem
Abalado do lado obscuro
Ela me toma como um anormal
O que ela não sabe
É que sei entender o que passa por sua cabeça
O que é a batalha de todo dia
E sua difícil sina de ser
Para elas, ontem era tudo pior,
Hoje ainda tem muita comodidade
A liberdade as pegou descalças
Parei olhando o relógio
Tão torto como o de Dali
Vou mudar a folhinha
E parar de pensar em sofrer.
Algum dia isso pode ter algum complemento. Algum dia...
Peixão89
Profectus Gardens - 1988