Platônico
( Eu deixarei intato o teu ser /a tua pessoa inviolável/Eu quero apenas
uma parte/neste prazer/A parte que não te pertence...Joaquim Cardozo)
Beba deste corpo nesta taça
A mão em viva carne
Os cristais que não competem
Com a visão da mão
Que se aprofunda
Considera os limites
Da palavra
Letras se derretem
No papel
Não vingaram nenhum fio
Desta sede
Bebe o líquido
Desta entrega
Na mão que sangra,pesada
Alheia e deserta
Um tanto exposta
Um tanto incerta
Deixa entrar pela garganta
Deixa ser pelo reconhecimento
Da distância...
Na possibilidade
Do ritual que não se alcança
Na leitura da embriaguês
Da própria chama
Tão sóbria, tão séria
Tão nítida, tão terna
Essa tua nudez que se derrama
Bebe desta taça no teu corpo
Deixa ser insensatamente
No teu âmago....
Deixa que se defina
A descoberta o próprio gosto
Tão amplo e diverso
Deixa que a saliva
Que escorre à boca
E o suor que acaricia o rosto
Se misture na prova da inconstância
Os segredos e os silêncios
Desta ânsia.....
Bebe este gole
De esperança vinho
Corpo a corpo
Forma
Taça
Da intacta espera
Invisível, diáfana, conflitante
Desmedir em como ser
O que já antes era
Bebe deste líquido
O núcleo rígido
Dissolve amante
Essa falsa paz
que se congela
Essa falsa paz tão delirante
Deixa ser pelo próprio ritmo
Consumo
Da natureza febril
Duplo saciante
Que se encerra
Deixa ser por essa fresta
Da mão que corta, reparte líquido
Devolva na solidez maciça
Desta gana
O preenchimento íntimo
De seus mistérios....
Beba infinitamente
O próprio verso
Na permanência úmida
Dessa mão
Que te constrói
Na forma de uma lágrima
No claro vacilo da imperfeição
De boca a boca
Fluidez
confessa.....