DIÁSPORA

Fui esvaído do etnocentrismo cabalista

Sendo transplantado em terras estranhas

Negociei com as culturas para sobreviver com a diferença

Fui mercadoria do porto exportada

Fui carne de primeira com emblema de segunda

A alimentar uma nação inteira

Cortaram-me o cordão umbilical,

Mas não conseguiram arrancar o meu DNA

Nos meus cromossomos, a ancestralidade grita alto

Hospedei na minha história uma cultura diferente

À minha tradição sou a ela recorrente

Nas trocas e intercâmbios,

Meus bens simbólicos atravessaram o atlântico

O blues, jazz e o samba são herança

De uma cultura milenar

Fui ferragem e ferreiro das minhas ferramentas

Para minar as prisões das quais me oprimia

O navio negreiro não trouxe apenas massa muscular,

Pele negra, lábios carnudos, cabelos de pixaim e coisas e tal.

Trouxe neurônios...

Trouxe a alma de um povo, o coração.

Amarraram-me os pés e as mãos,

Mas nada puderam fazer ao meu coração

Que continua vivo a clamar por justiça.

Aderlan Gonçalves
Enviado por Aderlan Gonçalves em 02/11/2009
Código do texto: T1900754
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