A Execução de uma Rainha
Saúdo a tua majestade, minha amiga e irmã de coroa.
Nesta nebulosa noite não me veio (nem virá) o sono
A mim, tua irmã, a quem ofensa não mais magoa,
Pois, de todas, a maior foi me terem usurpado o trono.
Não posso saber se, ao menos, chegará a ti esta carta,
Visto que de mim a maldita escolta não se aparta
E, ao amanhecer, esta cabeça que por uma coroa foi ornada
Separar-se-á deste corpo real... Nalgum lugar a verão pendurada.
Certa estou de que sabes, irmã, que do crime que me condenam
Jamais fui participante! Foram a ti essas serpes
Que as mentes puras e sóbrias com suas maldades envenenam:
Sei que de todas essas vestes vis, tu, ó amada amiga, te despes.
Passei todas as minhas horas, desde que fui condenada,
A recordar-me do grande dia em que fui coroada:
Jamais este reino foi ricamente lindo, e o meu povo lindamente feliz,
Como nesse dia em que tão bem eu o quis.
Havia cores, as mais vivas. E brilho, o mais luzente.
Para aqueles que estavam aportando, com suas naus suntuosas
A vista era a de uma grande jóia, uma belíssima peça mui fulgente...
Esta era a aparência da minha terra, em suas belezas mais vistosas.
Ah! Que feliz lembrança, ao reposteiro do patíbulo!
Para sempre, por todo o reino será lamentado esse capítulo!
O cetro de minha realeza deu lugar à corrente.
De minha dinastia o nome jamais produzirá nova semente!
Adeus, minha irmã. Devo-lhe gratidão por teres me acolhido
Em teus próprios braços, os quais regem e também afagam,
Pois irei para um lugar o qual de todos é sabido
Que ao rei cuja cabeça para a coroa se consagra
A eternidade o aguarda! Pois não foi posto, foi ungido!