A Execução de uma Rainha

Saúdo a tua majestade, minha amiga e irmã de coroa.

Nesta nebulosa noite não me veio (nem virá) o sono

A mim, tua irmã, a quem ofensa não mais magoa,

Pois, de todas, a maior foi me terem usurpado o trono.

Não posso saber se, ao menos, chegará a ti esta carta,

Visto que de mim a maldita escolta não se aparta

E, ao amanhecer, esta cabeça que por uma coroa foi ornada

Separar-se-á deste corpo real... Nalgum lugar a verão pendurada.

Certa estou de que sabes, irmã, que do crime que me condenam

Jamais fui participante! Foram a ti essas serpes

Que as mentes puras e sóbrias com suas maldades envenenam:

Sei que de todas essas vestes vis, tu, ó amada amiga, te despes.

Passei todas as minhas horas, desde que fui condenada,

A recordar-me do grande dia em que fui coroada:

Jamais este reino foi ricamente lindo, e o meu povo lindamente feliz,

Como nesse dia em que tão bem eu o quis.

Havia cores, as mais vivas. E brilho, o mais luzente.

Para aqueles que estavam aportando, com suas naus suntuosas

A vista era a de uma grande jóia, uma belíssima peça mui fulgente...

Esta era a aparência da minha terra, em suas belezas mais vistosas.

Ah! Que feliz lembrança, ao reposteiro do patíbulo!

Para sempre, por todo o reino será lamentado esse capítulo!

O cetro de minha realeza deu lugar à corrente.

De minha dinastia o nome jamais produzirá nova semente!

Adeus, minha irmã. Devo-lhe gratidão por teres me acolhido

Em teus próprios braços, os quais regem e também afagam,

Pois irei para um lugar o qual de todos é sabido

Que ao rei cuja cabeça para a coroa se consagra

A eternidade o aguarda! Pois não foi posto, foi ungido!

Paulo Kol
Enviado por Paulo Kol em 02/11/2009
Reeditado em 15/11/2009
Código do texto: T1900293
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