SE
Se a vida fosse mansa e lenta como o rio,
Se as pessoas fossem felizes como os passarinhos,
Não haveria ódio, nem inveja, nem fome, nem frio,
Não haveria o desamor neste mundo de redemoinhos.
Se a vida fosse clara, nua, como a lua exposta,
Não haveria mentira, nem traições, nem desespero e choradeira,
Não haveria tantas perguntas sem resposta,
Não haveria o resmungar trêmulo da benzedeira.
Se a vida fosse alegre como a cabeça do jovem,
Se as pessoas deixassem de lado o medo de viver,
Não haveria clamores, saudades, sombras que movem,
Não haveria tanto se, pois a vida é um pertencer.
Se todos fossem humildes como os olhos dos animais,
Se as pessoas fossem sinceras em cada frase dita,
Não haveria cobiça nos corações de homens tais
Não haveria a frase tão ouvida: oh, vida maldita!
Se a vida fosse rica de glória espalhando a sorte,
Se as pessoas deixassem de lado o mundo material,
Não haveria o pavor de se entregar um dia a morte,
Não haveria temor por uma troca tão natural.