APATIA
Deixo o barco solto à correnteza
Já que as correntes enfraqueceram,
Do que vale brigar com a natureza
Se os ouvidos dos ventos esqueceram
Que os ecos clamam na tempestade;
Debaixo de risco de relâmpago em fogo
A percorrer no céu toda uma metade,
Fazendo com impulso este jogo.
No teto escuro sobre a minha cabeça
Reme agora o coração aflito em agonia,
Quando penso no peso da sentença
Que termina ao chegar um outro dia.
Solto os remos junto ao barco na certeza
De que a fúria do mar descontrolado,
Desgraçará no flagelo esta beleza,
obra-prima de um poeta deformado.