Avant-dernieres pensees *

O fabricante de valsas,

Mesmo cansado e pouco descrente,

Continua a sua longa caminhada.

Recolhe melodias por entre camponeses,

E por entre salões de baile onde

todos os manequins de gêsso vão dançar.

Isso faz parte de sua missão ou condenação,

Neste pequeno reduto das esperanças,

Chamado de terra.

E a terra é imutável.

É furiosa, encantadora, mas não nega sua natureza.

Já o tempo, esse, é uma piada imposta aos homens,

Para lembrá-lo de que no final, tudo terminará igual.

A amnésia é uma virtude de poucos.

Aos outros sobram lembranças.

Congestionantes e opressivas lembranças.

Que condenam os momentos alegres à nostalgia,

E os tristes a um exercíco de auto-flagelação.

Nesses casos, nada melhor que ser um melodista,

Frustrado ou não.

Poder atirar à música,

Toda a dor e alegria que nos permitimos,

E condenar aos bonecos de gesso,

A dançarem para sempre, sem saber por quê.

No fim, nada é tão igual, e nem tão óbvio.

Os homens se matam. Se condenam.

A música, permeia como serpente etérea,

Essa manifestação do medo da morte.

E o fabricante que tem tudo isso em sua mente,

Só pode chorar. Sem saber por quem e sem motivo.

Porque tudo está apenas na sua cabeça.

Entretanto, há a noite e após esta, um dia,

Como recomenda todo livro de auto-ajuda.

E amanhã, quando a orquestra voltar a tocar,

Mesmo com os músculo estilhaçados pelo esforço,

O maestro continuará a reger,

Esse mundo que se chama: poesia.

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* O título se refere a uma peça para piano de mesmo nome de Erick Satie.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 08/07/2006
Código do texto: T189958