Avant-dernieres pensees *
O fabricante de valsas,
Mesmo cansado e pouco descrente,
Continua a sua longa caminhada.
Recolhe melodias por entre camponeses,
E por entre salões de baile onde
todos os manequins de gêsso vão dançar.
Isso faz parte de sua missão ou condenação,
Neste pequeno reduto das esperanças,
Chamado de terra.
E a terra é imutável.
É furiosa, encantadora, mas não nega sua natureza.
Já o tempo, esse, é uma piada imposta aos homens,
Para lembrá-lo de que no final, tudo terminará igual.
A amnésia é uma virtude de poucos.
Aos outros sobram lembranças.
Congestionantes e opressivas lembranças.
Que condenam os momentos alegres à nostalgia,
E os tristes a um exercíco de auto-flagelação.
Nesses casos, nada melhor que ser um melodista,
Frustrado ou não.
Poder atirar à música,
Toda a dor e alegria que nos permitimos,
E condenar aos bonecos de gesso,
A dançarem para sempre, sem saber por quê.
No fim, nada é tão igual, e nem tão óbvio.
Os homens se matam. Se condenam.
A música, permeia como serpente etérea,
Essa manifestação do medo da morte.
E o fabricante que tem tudo isso em sua mente,
Só pode chorar. Sem saber por quem e sem motivo.
Porque tudo está apenas na sua cabeça.
Entretanto, há a noite e após esta, um dia,
Como recomenda todo livro de auto-ajuda.
E amanhã, quando a orquestra voltar a tocar,
Mesmo com os músculo estilhaçados pelo esforço,
O maestro continuará a reger,
Esse mundo que se chama: poesia.
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* O título se refere a uma peça para piano de mesmo nome de Erick Satie.