No princípio.

Confronto o nada e sigo o rumo vago

Andei perdido em mim sem voz nem verso

E quando o canto escapa e soa incerto,

Num tal silêncio torpe, torto e grave

Procuro na palavra o que me cabe

Do grito bruto e falho que desvendo.

A rima frágil brota, aflora e estanca,

Em contra ponto, a voz encanta o senso,

Enquanto o canto segue delicado.

Em vão prometo trégua pro cansaço,

Porém escrevo forte, claro e tenso;

Do jeito incerto o verso surge exato.

A mão sem culpa arrisca, que nem penso

Um verso seco pesa feito chumbo

A pedra solta corta meu caminho,

Agora Minas fica muito perto

Recife pulsa e brilha num repente

Num verso claro feito água ardente.

A fibra vibra farta que alucina

No povo vivo, Severina gente,

Enfim renasce forte como sina.

Na voz que brota limpa contra o fado

Acorda o mundo, alcança a foz do verso

Da voz divina a lira fez-se o verbo.