Você é minha fome
Minha sede e minha insônia
Meu melhor sonho perdido
E o maior pesadelo que tenho
Você é minha dor no peito
A razão dessa lágrima incontida
Essa amargura e melancolia
Você é meu medo mais tenebroso
O futuro tornado incerto
Meu porto inseguro
Você é meu mar profundo
De águas revoltas onde me afogo e só
Você é meu céu sempre cinza
Minha tristeza da alma
Minha vontade de gritar
Você é minha vida sem rumo
Meus caminhos perdidos
E os planos não feitos
Agora desfeitos antes de sê-lo
Você é a luz que nunca vi
A treva que me encobre
Meu melhor sofrimento
Meu maior tormento
Você é o esquecimento
De que em mim há alguém
Alguma coisa
Uma coisa
Coisa
Você é meu maior fracasso
O erro incorrigível
Essa lembrança insistente
Que nunca me abandona
Você é essa vontade incontrolável
De sair fora de mim mesmo
E me perder entre tantos rostos e passos
Entre tantos desencontros e pessoas
Que passam e vão e vêm e não me vêem
Por trás da máscara que ri
Você é meu rosto que chora
E me faz perdido em meus descaminhos
Morrer à míngua num beco sem saída
Jazer na calçada uma figura desconhecida
Você é cada palavra calada em mim
Cada verso perdido
Um poema inteiro jogado no lixo
Você é esse imenso vazio
Essas noites em claro a pasmar a custa de nada
Você é meu maior fantasma
Demônios em volta de minha cama
Você é minha doença
Cujo remédio é um veneno
Essa falta de paz
Você é o fim da ilusão
A morte da esperança
Você é todo o meu desespero
De que minhas fugas não me escondem
Você é esse abismo
Esse labirinto sinistro
Um rio caudaloso que me arrasta para longe
Você é toda essa distância
Posta entre mim e meu devir
Você é esse deserto
Onde padece minha condição humana
Você é essa vida que sobra no fim da minha vida
Você é tudo o que tenho e não consigo deitar fora
Você é minha flor que fenece
Num jardim que morreu
Você é aquela vontade de viver
Que em mim o mundo esqueceu
Você é uma idéia fixa
Minha principal obsessão
O começo e o meio e o fim
De tanta depressão
Minha maior desgraça
A única razão de tudo assim tão inútil
E tão sem graça
Minha falta de ânimo e inspiração
O atalho de minha arte
Minha aberração
Você é minha pior parte
Toda essa aflição
Tudo que mais detesto em mim
Você é o mal que me deixou assim
Minha pior incerteza
Você é toda minha impossibilidade
A explicação de minha passividade
Minha falta de delicadeza
Minha maior insegurança
Você é essa falta de esperança
A fonte de tanta solidão
Você é minha perdição
O que sempre me impede de dizer não
Você é a contramão
O ir quando estou voltando
O voltar quando ainda nem fui
Você é minha infelicidade
Gerada, nascida e criada
Você é a impossibilidade de fazer você feliz
É o que arrasto comigo
Quando quero deixar tudo para trás
O que se gruda em mim quando quero voar
O que me pesa quando estou a afundar
Você é a minha falta de paz
Aquilo que não sei onde começa e onde termina
Esse desassossego madrugada adentro
Que filho da puta nenhum de poeta nunca vai definir
Ou entender entre suas palavras tão sem sangue
Tão sem dor e realidade e sem ranger de dentes
Sem cólicas intermináveis
E espasmos insuportáveis
Sem o transpassar das espadas
Tão assim mortas a falar de coisas inexistentes
Você é o meu pior tormento
Meu mais putrefato sentimento
Cada pensamento meu errante
É você nessa loucura
Você é minha insanidade
Esse andar a esmo indo a lugar nenhum
Você é tudo o que se fez e não devia
E que não se pode desfazer
Nem assimilar e nem esquecer
Você é essa cicatriz que carrego
No dedo anular da mão esquerda
Bem no meio do coração dilacerado
E em todo o meu entendimento
A lembrança do ferimento
Que paira acima do esquecimento
Você é a porta de todos os bares
Essa embriaguez da alma
Essa fuga atroz de todos os lugares
Todos os becos onde me enfiei
Você é todo o inferno onde me enterrei
Você é a sombra no meu leito de morte
Uma triste visão no meu último momento
Você é a impossibilidade do esquecimento
Você é minha maior vergonha
Meu medo de me mostrar
Você é cada uma dessas portas
Fechadas dos puteiros da cidade
Onde fui me lembrar do prazer
Ou tentar esquecer
Você é essa imagem ereta
De catedrais ameaçadoras
Você é meu melhor pecado
O maior de todos
O único
E todos
Você é essa falta de ânimo
Esse asco domingo de manhã
Essa solidão da sexta-feira
Essa coisa que nunca vem
Quando estou agonizando
Você é o abutre que me come a carne
E não me consome de vez
Você é o tempo perdido que me devora a vida
Mas que não me extingue
Ao contrário me faz reviver
Para comer a carne
E não me consumir
Não extinguir
Você é tudo o que se desmancha em mim
E não se refaz
É tudo o que se perde
E nunca mais é encontrado
É tudo o que se esvai
E se acaba para nunca mais
Você é a catedral da minha alma depois do incêndio
A cidade bombardeada
A ingenuidade deflorada
A criança em mim amargurada
Você é destruição que se alastra
A cinza e o pó e a fumaça
Que me tapa o sol
E me tira a luz
E me deixa no escuro
Você é minha morte comovente e lenta
A certeza de não haver salvação
Você é o prazer que me atormenta
O asco, a ânsia
A náusea e a angústia
O nojo de mim mesmo
A repugnância toda que me tenho
Que me faz não me querer mais para ninguém
O não de cada prostituta
Em cada imundo e lúgubre hotel em que entrei
Você é a árvore no meio do Paraíso
Ciência do Bem e do Mal
A serpente enganadora
De todos os abraços
Você é o que nunca senti
E de todas as saudades
A que mais odeio ter
Você é o lado vazio
Esfriando e morrendo na minha cama
A solidão do quarto
A voz estranha do outro lado da linha
Você é somente abstinência
Erínia, Gréia, Moira, Medusa, Górgona
Barca de Caronte
Porta guardada por Cérbero
A morte empunhando sua foice
Cadavérica e sorridente
Você me traz o fim
Você é minha maior, pior e mais absurda ilusão
Saudade paradoxal de tudo que nunca tive
De tudo o mais que nunca fui
E de tudo o que jamais senti
O inútil arrependimento
O não sentido do tempo
Sempre indo e que nunca volta
Que nada forma e tudo transforma
Corrompe, muda, consome
E nada refaz
Você é a imponderabilidade
Desse amor estúpido que trago dentro do peito
Que resiste e teima em não morrer
Que não me permite esquecer
Que sem o qual não vou viver
Não da mesma forma
Nunca sendo o mesmo
Você é essa vontade de partir sem rumo
Andar a esmo tateando sombras
E ermo buscando sobras
Migalhas deixadas pelo tempo aqui e ali
Restos de lembranças que ainda não me foram tiradas
Um não sei o quê de esperança ainda não assassinada
Você é meu ódio do mundo
Minha inveja dos namorados
Minha repulsa aos poetas
Cujas palavras você nunca reconheceu nas minhas
Você é o que me oprime
E me sufoca e mata
A eterna tortura a que me submeto
Na ilusão de ser feliz
Ou satisfeito
Ou o quê?
Sei lá
Ou pouco
Nada
Você é a ferida
O sangue que corre para fora das veias
A alma que ladeia meu corpo morto
Você é o resto da vida que não tive
Que não tenho e nem nunca terei
O escuro da floresta
A indecisão dos caminhos
A imprecisão dos momentos
A sofreguidão dos sentimentos
Você é a doença
Sem a qual não sofro quanto quero
Você é a morte que se avizinha
E não avisa e vem de pronto e fim
E acaba com tudo que nem sempre foi assim
Você é um anjo virado de lado
De asas negras que me corrompe a alma
A porta do inferno
A perda de tudo o que é eterno
Cada palavra tola saída da boca
Dos profetas tresloucados
E dos poetas sem pai nem mãe
Postos no mundo por um acaso do destino
Você é o acidente
O indesejável
O intragável de meus dias
Você é cada uma dessas noites
Que ando a pasmar no escuro
A procura de um porquê
E é cada dia que amanhece cinza
Trazendo muito mais perguntas
Cujas respostas repousam no silêncio
E se escondem no vazio
E se perdem no nada
Você é a cicuta
Que trago aos goles
Em busca de paz e sossego
A musa dos poetas filhos da puta
Que vivem de ilusão
E de sonhos a custa de pesadelos alheios
Você é o eu lírico de minha desgraça
O alvorecer de minha solidão
E eu sou só um desgraçado
Que estava sempre longe
E que distante estava no dia da imensa tragédia
E não vi a morte de nada
Você é o sem fim dessa estrada
A falta de rumo
Caminhar que me leva para nada
O não ter aonde ir
Você é a praça abandonada
Essa falta total de prumo
Essa imensa e penosa vontade de sorrir
Você é o não findar dessas palavras
A torpe inspiração desses versos
E a indecência inspiradora de todos os meus poemas
A repulsa do porvir de todas as minhas palavras
Você é minha alma morta e calada
Minha mente parada
Você é essa agonia malévola
A aflição profícua do silêncio
Dessa voz calada para sempre em mim
De todos aqueles que penam e purgam
E padecem sem remédio o mal do amor
E insistem em florescer na dor
Você é o terrível clamor
De mil presságios que não vão evitar
O terrível momento da triste e infeliz decisão
De simplesmente se permitir
Não ter por mim a mínima consideração
Você é o melhor motivo
De toda a minha humilhação
De eu procurar prazer onde há dor
E consolo onde há solidão
Tranqüilização onde há desamor
E paz onde há desolação
Você é minha penúria
Você é o vinho estragado
Que vou sorvendo em taças quebradas
Em meus banquetes mais sombrios
E em saraus estranhos de réquiens soturnos
Nos quais sou o único homenageado
Morto
Você é minha alegria embotada
Minha vontade de viver esmorecida
Minha criatividade encruada
Minha satisfação empedernida
Você é tudo o que não me contém
Imensidão que não me abarca e nem envolve
O todo que não me supõe e nem me percebe
A inaceitável realidade que não me toma de assalto
E nem ao menos me assola
Sedução que não me conquista
A curiosidade que não me prende
O enternecer que não me atrai
Torpor que não me possui
Você é a alma do mundo que me exclui
É o que me faz perder a dignidade
Todo qualquer respeito por mim mesmo
A auto-estima e a paz de espírito
E de tudo que nunca me permitiu ter
Você é o que se permite me tirar tudo
E nunca mais vai ser capaz de devolver
Nunca
Nada
Minha sede e minha insônia
Meu melhor sonho perdido
E o maior pesadelo que tenho
Você é minha dor no peito
A razão dessa lágrima incontida
Essa amargura e melancolia
Você é meu medo mais tenebroso
O futuro tornado incerto
Meu porto inseguro
Você é meu mar profundo
De águas revoltas onde me afogo e só
Você é meu céu sempre cinza
Minha tristeza da alma
Minha vontade de gritar
Você é minha vida sem rumo
Meus caminhos perdidos
E os planos não feitos
Agora desfeitos antes de sê-lo
Você é a luz que nunca vi
A treva que me encobre
Meu melhor sofrimento
Meu maior tormento
Você é o esquecimento
De que em mim há alguém
Alguma coisa
Uma coisa
Coisa
Você é meu maior fracasso
O erro incorrigível
Essa lembrança insistente
Que nunca me abandona
Você é essa vontade incontrolável
De sair fora de mim mesmo
E me perder entre tantos rostos e passos
Entre tantos desencontros e pessoas
Que passam e vão e vêm e não me vêem
Por trás da máscara que ri
Você é meu rosto que chora
E me faz perdido em meus descaminhos
Morrer à míngua num beco sem saída
Jazer na calçada uma figura desconhecida
Você é cada palavra calada em mim
Cada verso perdido
Um poema inteiro jogado no lixo
Você é esse imenso vazio
Essas noites em claro a pasmar a custa de nada
Você é meu maior fantasma
Demônios em volta de minha cama
Você é minha doença
Cujo remédio é um veneno
Essa falta de paz
Você é o fim da ilusão
A morte da esperança
Você é todo o meu desespero
De que minhas fugas não me escondem
Você é esse abismo
Esse labirinto sinistro
Um rio caudaloso que me arrasta para longe
Você é toda essa distância
Posta entre mim e meu devir
Você é esse deserto
Onde padece minha condição humana
Você é essa vida que sobra no fim da minha vida
Você é tudo o que tenho e não consigo deitar fora
Você é minha flor que fenece
Num jardim que morreu
Você é aquela vontade de viver
Que em mim o mundo esqueceu
Você é uma idéia fixa
Minha principal obsessão
O começo e o meio e o fim
De tanta depressão
Minha maior desgraça
A única razão de tudo assim tão inútil
E tão sem graça
Minha falta de ânimo e inspiração
O atalho de minha arte
Minha aberração
Você é minha pior parte
Toda essa aflição
Tudo que mais detesto em mim
Você é o mal que me deixou assim
Minha pior incerteza
Você é toda minha impossibilidade
A explicação de minha passividade
Minha falta de delicadeza
Minha maior insegurança
Você é essa falta de esperança
A fonte de tanta solidão
Você é minha perdição
O que sempre me impede de dizer não
Você é a contramão
O ir quando estou voltando
O voltar quando ainda nem fui
Você é minha infelicidade
Gerada, nascida e criada
Você é a impossibilidade de fazer você feliz
É o que arrasto comigo
Quando quero deixar tudo para trás
O que se gruda em mim quando quero voar
O que me pesa quando estou a afundar
Você é a minha falta de paz
Aquilo que não sei onde começa e onde termina
Esse desassossego madrugada adentro
Que filho da puta nenhum de poeta nunca vai definir
Ou entender entre suas palavras tão sem sangue
Tão sem dor e realidade e sem ranger de dentes
Sem cólicas intermináveis
E espasmos insuportáveis
Sem o transpassar das espadas
Tão assim mortas a falar de coisas inexistentes
Você é o meu pior tormento
Meu mais putrefato sentimento
Cada pensamento meu errante
É você nessa loucura
Você é minha insanidade
Esse andar a esmo indo a lugar nenhum
Você é tudo o que se fez e não devia
E que não se pode desfazer
Nem assimilar e nem esquecer
Você é essa cicatriz que carrego
No dedo anular da mão esquerda
Bem no meio do coração dilacerado
E em todo o meu entendimento
A lembrança do ferimento
Que paira acima do esquecimento
Você é a porta de todos os bares
Essa embriaguez da alma
Essa fuga atroz de todos os lugares
Todos os becos onde me enfiei
Você é todo o inferno onde me enterrei
Você é a sombra no meu leito de morte
Uma triste visão no meu último momento
Você é a impossibilidade do esquecimento
Você é minha maior vergonha
Meu medo de me mostrar
Você é cada uma dessas portas
Fechadas dos puteiros da cidade
Onde fui me lembrar do prazer
Ou tentar esquecer
Você é essa imagem ereta
De catedrais ameaçadoras
Você é meu melhor pecado
O maior de todos
O único
E todos
Você é essa falta de ânimo
Esse asco domingo de manhã
Essa solidão da sexta-feira
Essa coisa que nunca vem
Quando estou agonizando
Você é o abutre que me come a carne
E não me consome de vez
Você é o tempo perdido que me devora a vida
Mas que não me extingue
Ao contrário me faz reviver
Para comer a carne
E não me consumir
Não extinguir
Você é tudo o que se desmancha em mim
E não se refaz
É tudo o que se perde
E nunca mais é encontrado
É tudo o que se esvai
E se acaba para nunca mais
Você é a catedral da minha alma depois do incêndio
A cidade bombardeada
A ingenuidade deflorada
A criança em mim amargurada
Você é destruição que se alastra
A cinza e o pó e a fumaça
Que me tapa o sol
E me tira a luz
E me deixa no escuro
Você é minha morte comovente e lenta
A certeza de não haver salvação
Você é o prazer que me atormenta
O asco, a ânsia
A náusea e a angústia
O nojo de mim mesmo
A repugnância toda que me tenho
Que me faz não me querer mais para ninguém
O não de cada prostituta
Em cada imundo e lúgubre hotel em que entrei
Você é a árvore no meio do Paraíso
Ciência do Bem e do Mal
A serpente enganadora
De todos os abraços
Você é o que nunca senti
E de todas as saudades
A que mais odeio ter
Você é o lado vazio
Esfriando e morrendo na minha cama
A solidão do quarto
A voz estranha do outro lado da linha
Você é somente abstinência
Erínia, Gréia, Moira, Medusa, Górgona
Barca de Caronte
Porta guardada por Cérbero
A morte empunhando sua foice
Cadavérica e sorridente
Você me traz o fim
Você é minha maior, pior e mais absurda ilusão
Saudade paradoxal de tudo que nunca tive
De tudo o mais que nunca fui
E de tudo o que jamais senti
O inútil arrependimento
O não sentido do tempo
Sempre indo e que nunca volta
Que nada forma e tudo transforma
Corrompe, muda, consome
E nada refaz
Você é a imponderabilidade
Desse amor estúpido que trago dentro do peito
Que resiste e teima em não morrer
Que não me permite esquecer
Que sem o qual não vou viver
Não da mesma forma
Nunca sendo o mesmo
Você é essa vontade de partir sem rumo
Andar a esmo tateando sombras
E ermo buscando sobras
Migalhas deixadas pelo tempo aqui e ali
Restos de lembranças que ainda não me foram tiradas
Um não sei o quê de esperança ainda não assassinada
Você é meu ódio do mundo
Minha inveja dos namorados
Minha repulsa aos poetas
Cujas palavras você nunca reconheceu nas minhas
Você é o que me oprime
E me sufoca e mata
A eterna tortura a que me submeto
Na ilusão de ser feliz
Ou satisfeito
Ou o quê?
Sei lá
Ou pouco
Nada
Você é a ferida
O sangue que corre para fora das veias
A alma que ladeia meu corpo morto
Você é o resto da vida que não tive
Que não tenho e nem nunca terei
O escuro da floresta
A indecisão dos caminhos
A imprecisão dos momentos
A sofreguidão dos sentimentos
Você é a doença
Sem a qual não sofro quanto quero
Você é a morte que se avizinha
E não avisa e vem de pronto e fim
E acaba com tudo que nem sempre foi assim
Você é um anjo virado de lado
De asas negras que me corrompe a alma
A porta do inferno
A perda de tudo o que é eterno
Cada palavra tola saída da boca
Dos profetas tresloucados
E dos poetas sem pai nem mãe
Postos no mundo por um acaso do destino
Você é o acidente
O indesejável
O intragável de meus dias
Você é cada uma dessas noites
Que ando a pasmar no escuro
A procura de um porquê
E é cada dia que amanhece cinza
Trazendo muito mais perguntas
Cujas respostas repousam no silêncio
E se escondem no vazio
E se perdem no nada
Você é a cicuta
Que trago aos goles
Em busca de paz e sossego
A musa dos poetas filhos da puta
Que vivem de ilusão
E de sonhos a custa de pesadelos alheios
Você é o eu lírico de minha desgraça
O alvorecer de minha solidão
E eu sou só um desgraçado
Que estava sempre longe
E que distante estava no dia da imensa tragédia
E não vi a morte de nada
Você é o sem fim dessa estrada
A falta de rumo
Caminhar que me leva para nada
O não ter aonde ir
Você é a praça abandonada
Essa falta total de prumo
Essa imensa e penosa vontade de sorrir
Você é o não findar dessas palavras
A torpe inspiração desses versos
E a indecência inspiradora de todos os meus poemas
A repulsa do porvir de todas as minhas palavras
Você é minha alma morta e calada
Minha mente parada
Você é essa agonia malévola
A aflição profícua do silêncio
Dessa voz calada para sempre em mim
De todos aqueles que penam e purgam
E padecem sem remédio o mal do amor
E insistem em florescer na dor
Você é o terrível clamor
De mil presságios que não vão evitar
O terrível momento da triste e infeliz decisão
De simplesmente se permitir
Não ter por mim a mínima consideração
Você é o melhor motivo
De toda a minha humilhação
De eu procurar prazer onde há dor
E consolo onde há solidão
Tranqüilização onde há desamor
E paz onde há desolação
Você é minha penúria
Você é o vinho estragado
Que vou sorvendo em taças quebradas
Em meus banquetes mais sombrios
E em saraus estranhos de réquiens soturnos
Nos quais sou o único homenageado
Morto
Você é minha alegria embotada
Minha vontade de viver esmorecida
Minha criatividade encruada
Minha satisfação empedernida
Você é tudo o que não me contém
Imensidão que não me abarca e nem envolve
O todo que não me supõe e nem me percebe
A inaceitável realidade que não me toma de assalto
E nem ao menos me assola
Sedução que não me conquista
A curiosidade que não me prende
O enternecer que não me atrai
Torpor que não me possui
Você é a alma do mundo que me exclui
É o que me faz perder a dignidade
Todo qualquer respeito por mim mesmo
A auto-estima e a paz de espírito
E de tudo que nunca me permitiu ter
Você é o que se permite me tirar tudo
E nunca mais vai ser capaz de devolver
Nunca
Nada