Prologo à insonia
Certa vez perguntei-me se para ser poeta era necessário ser verdadeiro no que se sente ao por as palavras no papel. Lembro-me que naquela ocasião, não cheguei à conclusão alguma. Por isso aquela duvida permaneceu em minha mente por dias e dias, noites e noites de insônia. Martelando-me como um tic-tac de um relógio. Incessantemente... Perguntava-me também por que não conseguia mais escrever. Por horas e horas eu me defrontava uma folha de papel, por horas fustigava-a com palavras soltas e frases sem sentido. Tudo em vão, tudo inútil.
Era terrível a sensação de impotência, de ter a cabeça vazia, de não poder expressar nada. Talvez, porque eu não sentisse nada. Hoje, seis meses depois que morri, somo vinte e dois sonetos póstumos à minha antiga conta.
Pergunto-me o que mudou em mim, que tão drasticamente me trouxe o que eu ansiei por tanto tempo. Estou morto, apesar de ainda caminhar, de ainda respirar, e apesar de ainda sorrir, mesmo que falsamente. Sei hoje, a resposta da questão que me atormentava a seis meses atrás. Não é, e nunca foi necessário ser verdadeiro no que se sente para escrever um verso. Eu nada sinto e ainda assim escrevo como se estivesse ardendo em vida, em amor e em desejo. Eu não durmo, mal me alimento, tornei-me um autômato semi-consciente. No entanto, para o meu espanto, sinto-me mais satisfeito morto do que quando vivo.